sexta-feira, 29 de junho de 2012

Região leste tem 25 mortes após atentado, diz PM

29/06/2012-05h00

//www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1112355-regiao-leste-tem-25-mortes-apos-atentado-diz-pm.shtmlBA
GIhttp:BERGAMIM JR.
DE SÃO PAULO

Pelo menos 25 pessoas foram mortas em Ferraz de Vasconcelos, Poá, Itaquaquecetuba e Mogi das Cruzes, de sábado até quarta. A informação é do capitão Joel Chen, comandante da PM em Ferraz.
Secretário da Segurança viaja para assistir jogo do Corinthians
Onda de violência chega ao 16º dia em São Paulo
As mortes ocorreram após o assassinato do cabo Joaquim Cabral de Carvalho, morto com quatro tiros no rosto na manhã de sábado na cidade.
"Muitos desses mortos são usuários de drogas. E os crimes ocorreram em áreas que são pontos de venda de entorpecentes", disse o capitão.
Na quarta-feira, um ônibus foi incendiado no bairro São Francisco. O ato foi uma represália à morte de dois jovens no domingo passado no mesmo bairro.
O clima é de tensão ali. A Folha percorreu a região na noite de ontem e viu que muitos carros da PM fazem rondas por conta de boatos sobre um toque de recolher. Comerciantes abriram as portas, mas trabalham apreensivos. "A gente ouviu falar que teria que fechar, mas ninguém deu nenhuma ordem, então a gente está trabalhando", disse uma lojista.
A Folha pediu à Secretaria da Segurança o número de homicídios na Grande SP e na capital desde o dia 13, mas a pasta disse não ter tempo para isso. A Folha apurou que foram 79 mortes na capital e 60, na Grande São Paulo.

Defensoria pede liberdade para 7 menores em Mauá

sexta-feira, 29 de junho de 2012 7:00

Defensoria pede liberdade para 7 menores em Mauá

Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC

http://www.dgabc.com.br/News/5966178/defensoria-pede-liberdade-para-7-menores-em-maua.aspx

A Justiça deve decidir na próxima semana o destino de sete adolescentes internados na unidade da Fundação Casa de Mauá. Eles estão lá por tráfico de drogas e cumprem a medida socioeducativa em regime fechado há pelo menos seis meses - a maioria é primária. A Defensoria Pública do Estado de São Paulo protocolou, no Fórum local, os pedidos de conversão de medida de internação para programa em meio aberto (liberdade assistida ou prestação de serviço à comunidade).
A ação é tentativa para combater a superlotação nas alas de internação da Fundação Casa no Grande ABC - além de Mauá, os dois centros de São Bernardo estão com a capacidade de vagas acima do limite, conforme o Diário apontou em várias reportagens desde o dia 12 de abril.
Para o defensor público Marcelo Carneiro Novaes, trata-se de medida pioneira. "Se acatada pela Justiça, com certeza poderá ser estendida para todo o Estado", afirmou. Ele é o autor dos sete pedidos de conversão de medida dos adolescentes de Mauá para o meio aberto.
O embasamento jurídico está no artigo 49, inciso 2, da Lei Federal 12.595, do Sinase (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), que entrou em vigor em abril. Quando inexistir vaga na unidade de internação, o adolescente, que tenha cometido ato infracional de baixo poder ofensivo deverá ser encaminhado para cumprimento da medida em liberdade.
A apreensão por tráfico de drogas se encaixa nessa situação, segundo o defensor. Aliás, o próprio STJ (Superior Tribunal de Justiça) tem o mesmo entendimento. Para a Corte, a prática desse tipo de infração permite a fixação da medida em meio aberto.
Para o STJ, aos atos infracionais praticados sem grave ameaça ou violênica à pessoa, tais como o tráfico de drogas ou porte ilegal de armas, não se aplica o caráter excepcional da internação.
No entanto, o entendimento do órgão superior federal não é compartilhado pela maioria dos juízes paulistas. Hoje, no Estado, o tráfico de drogas está empatado com o roubo, delitos mais praticados pelos adolescentes que chegam à Fundação Casa. "Posso apontar que 48% das internações hoje são por tráfico, principalmente em cidades do interior paulista. Motivo principal da superlotação nas unidades", afirmou Novaes.
Até ontem, a representação não havia chegado no Ministério Público para manifestação da promotora. A juíza da Infância e Juventuda de Mauá, Maria Goretti Beker Prado, é quem definirá se os sete adolescentes deixarão a unidade de internação. No total, são 63 jovens no centro - a capacidade é para 56 vagas.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

“Não vai falar, vagabunda?”, dizia o torturador

“Não vai falar, vagabunda?”, dizia o torturador

Policiais torturam para forçar confissões, agentes penitenciários torturam para castigar os presos. Há centenas de denúncias todos os anos mas poucos agentes do Estado são punidos.
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“Zero Um” é o mais nervoso dos quatro policiais militares que revistam a casa de Marlene. Depois de encontrar um cigarro de maconha, além de um relógio, munição e um computador roubados, os PMs a levam para o quarto algemada, fazem com que ajoelhe e desferem uma rodada de tapas no seu rosto, coronhadas na cabeça e chutes pelo corpo. É de “Zero Um” a ideia de pegar um saco plástico: “Não vai falar, vagabunda?”. Ele coloca o saco preto ao redor da cabeça de Marlene. Ela desmaia.
O nome da vítima foi trocado, para preservar sua identidade, mas o apelido “Zero Um” é verídico, escolhido pelos PMs entre os codinomes usados pelos personagens de Tropa de Elite – filme que retrata a ação do grupo de elite da polícia militar do Rio de Janeiro.
Eram dez horas da noite do primeiro dia de 2012 quando a camareira de 28 anos autorizou a entrada dos policiais em sua casa, que fica em um bairro pobre de Manaus. Ela estava grávida de 5 meses, perdeu a criança dois dias depois. A “técnica” do saco no rosto para extrair informação também aparece nas cenas de Tropa de Elite.
Na vida real, era o início de uma sessão de mais de duas horas de tortura – relatados por Marlene à reportagem da Pública que a visitou na Cadeia Pública Feminina “Desembargador Raimundo Vidal Pessoa”, onde está presa desde então por posse de objetos roubados.
Marlene acordou do desmaio provocado pela falta de ar dentro do saco preto com um jato de spray de pimenta no rosto e foi arrastada para a cozinha. Mais uma vez, foi de “Zero Um” a ideia: esquentar objetos metálicos no fogão. Os policiais usaram suas próprias ferramentas de trabalho para queimá-la: primeiro, a algema, pressionada em brasa contra sua perna esquerda com a ajuda de um alicate. Depois, a ponta do cano do revólver, dentro da pele queimada pela algema – formando dois círculos circunscritos.
As marcas deixadas pela polícia no corpo da camareira são inconfundíveis. São a prova de que eles não temiam punição. Embora amplamente conhecida pela população, a tortura cometida por agentes da lei é um tabu para a Justiça. Raramente condena-se um policial ou um agente carcerário pelo crime.
Uma enraizada cultura de resistência da própria corporação dificulta o julgamento, a investigação e produção de provas. Isso quando a vítima consegue registrar a denúncia, vencendo outra série de obstáculos antes da abertura do inquérito. O silêncio realimenta o crime ao dar a segurança da impunidade aos policiais violentos.
Comissão da verdade: tortura ontem e hoje
A recente criação da Comissão da Verdade, em maio desse ano, foi considerada um passo importante para quebrar o ciclo histórico da violência praticada por agentes do Estado no país. A cerimônia de lançamento do grupo, que deve trazer à tona os relatos sobre tortura e homicídio cometidos pelo regime militar, contou com um discurso emocionado da presidenta Dilma Rousseff, ela mesmo uma vítima da tortura em 1970. O mesmo governo que lança luz sobre os crimes do passado, porém, faz pouco sobre a tortura que acontece no presente.
É isso que diz um duro relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), que o governo manteve sob sigilo por quatro meses. Quando o documento foi divulgado, em 15 de junho, não foi difícil entender o porquê: o documento aponta diversas brechas e falhas no combate ao crime dentro das instituições brasileiras.
Com base em visitas a presídios e entrevistas no Brasil, o Subcomitê de Prevenção à Tortura (SPT) faz recomendações concretas sobre como os governos podem – e devem – combater o crime. E destaca que pouco mudou desde a última visita do grupo, em 2001. “O SPT recorda que muitas das recomendações feitas no presente relatório não estão sendo apresentadas ao Brasil pela primeira vez”, diz o documento. “Infelizmente, o SPT detectou muitos problemas semelhantes aos identificados nas visitas anteriores”.
Um dos compromissos mais simples assumidos pelo governo brasileiro com a ONU era o de criar, até 2008, um mecanismo nacional para combater a tortura, que teria um comitê responsável por organizar os dados estatísticos, promover medidas de prevenção ao crime e fazer visitas sistemáticas a presídios e delegacias.
Nem isso foi feito. O Projeto de Lei que criava o mecanismo só foi enviado ao Congresso em setembro de 2011, o mesmo mês em que o subcomitê voltava a visitar o país. Hoje, aguarda votação.
Caixa preta
É difícil ter uma dimensão da prática da tortura no Brasil, pois não há um órgão que centralize as denúncias contra policiais civis e militares e agentes carcerários. Cada polícia estadual tem sua ouvidoria (civil) e corregedoria (militar), e o sistema penitenciário tem sua própria corregedoria. A Pública solicitou os dados de denúncia de violência em cada uma dessas instituições, em todos os estados. Foram 57 ouvidorias contatadas (em alguns estados, a ouvidoria da polícia é unificada) e 18 responderam. Ou seja, menos de um terço dos órgãos em que a informação foi solicitada.
Embora restritos, os dados dão uma ideia da dimensão do crime. Foram 1.356 denúncias de tortura, agressão física e lesão corporal praticadas por policiais e agentes penitenciários em 14 estados entre 2010 e 2011.
A Lei de Acesso à Informação, aprovada junto com a instituição da Comissão da Verdade, diz que os órgãos do Estado têm o dever de passar informações públicas quando solicitados. “Por essa lei, os dados de direitos humanos nunca mais poderão ser reservados, secretos ou ultra secretos”, disse Dilma no discurso que saudou a aprovação da lei.
Na prática, os órgãos públicos ainda encontram avariadas maneiras de negar o acesso à informação. Dados solicitados com até 3 semanas de antecedência não foram fornecidos a pretexto de “falta de tempo”, e algumas ouvidorias simplesmente se recusaram a prestar a informação. “Não passo porque o tratamento que o jornalista dá é de servir essa máquina do capitalismo, é para vender”, disse o coronel Lourival Camargo, corregedor da polícia militar de Goiás.
A falta de preparo das instituições para entender a função dos órgãos em que atuam também ficou evidente diversas vezes. Um exemplo: questionado sobre denúncias de violência contra agentes penitenciários, o funcionário de uma ouvidoria do sistema penitenciário (que tem como principal função receber denúncias contra os agentes do sistema), não escondeu seu estranhamento: “Agressão ao preso? Você não quer dizer ao agente? Você quer saber quantos presos bateram nos agentes, né?”.
Submarino e microondas
Segundo levantamento da Pastoral Carcerária em 2010, organização que visita presídios em todos os estados, a prática de tortura por parte de agentes públicos foi documentada em 20 dos 26 estados acompanhados. Os relatos coletados entre as vítimas vão de espancamentos pela polícia civil e militar no momento da prisão a agressões dentro das unidades de detenção (veja alguns relatos no vídeo acima). As mais comuns são feitas com porrete, cano da arma e com o uso das mãos e botas.
José Dias de Jesus Filho, assessor jurídico da pastoral, que acompanha todos os casos que passam pela entidade, descreve outras “técnicas” relatadas: “Além do saco plástico, tem o microondas, que é quando deixa o preso por horas dentro do carro no sol, ou quando coloca ele algemado no camburão e corre, fazendo ziguezague”, ele explica. “O submarino é quando enfia a cabeça da pessoa na água. E tem muito choque nos testículos com o teaser”. Há ainda as técnicas específicas para as mulheres, que são variações da violência sexual. “Eles passam a mão no corpo, deixam a mulher nua na frente do batalhão ou levam para um lugar ermo onde ela acha que vai ser violentada”.
Marcia Honorato, colaboradora do Comitê para Prevenção à Tortura no Rio de Janeiro, acrescenta: a violência não é só contra pessoas que estão presas. Em contato com mais de 15 comunidades carentes do Rio, ela recebe relatos de violência sistemática de policiais contra os moradores dos morros cariocas, inclusive aqueles que foram “pacificados”.
“Eles espancam e torturam sob a justificativa do desacato. Qualquer coisa é desacato, uma festa com som mais alto, uma resposta que eles não gostam”, afirma. “A pessoa fica arrebentada e ainda vira réu”. Segundo ela, as agressões mais comuns são com escopeta na cabeça, socos no rosto e chute na boca do estômago e nas costas. “Isso é o que as pessoas veem a céu aberto e nos contam. Outras violências, que acontecem dentro das casas, nós nem ficamos sabendo”.
Por que se tortura
E por que se tortura? Com base nas denúncias que colheram nos presídios de 1997 a 2009, a Pastoral concluiu no Relatório Sobre Tortura de 2010 que a Polícia Civil tortura para obter informação ou forçar a confissão de um crime; a PM tem o castigo como primeiro motivo e, em segundo lugar, obter uma confissão; e os agentes penitenciários agridem para castigar.
O relatório da entidade também aponta a relutância das autoridades responsáveis por receber e apurar as denúncias como o principal motivo para a impunidade, ou seja, as ouvidorias ou corregedorias.
Luiz Gonzaga Dantas, ouvidor da polícia do estado de São Paulo, reconhece que as corregedorias e ouvidorias ainda não têm a autonomia necessária para exercer o papel de fiscalização que deveriam desempenhar. E defende uma das recomendações feitas pelo relatório da ONU: um plano de carreira independente para os funcionários desses órgãos. “Ocorre de policiais que trabalham na ouvidoria irem trabalhar com as equipes que puniram. E aí, como ele fica?”, questiona Dantas.
Os corregedores lidam com outra limitação grave: depois de receber a denúncia contra um policial, eles entram com um procedimento inicial e pedem a abertura de um inquérito. Esse inquérito volta para a polícia, que é quem conduz a investigação. No caso de denúncia contra policiais civis, por exemplo, o responsável pelo inquérito que vai investigar crimes cometidos pelos colegas é da mesma corporação.
Quando tentam quebrar o ciclo de silêncio, mentira e impunidade, presos e seus familiares chegam a ser ameaçados pelos agentes, como aconteceu com a Associação de Amigos e Familiares de Presos, a Amparar, que trabalha com mães de adolescentes internados na Fundação Casa, em São Paulo, para incentivar as denúncias de tortura. “Famílias que denunciam são humilhadas e expostas. Eles chamam a mãe numa sala com vários funcionários e perguntam por que ela tomou aquela atitude. Se sabe que isso pode fazer com que seu filho fique lá ainda mais tempo”, diz o representante da Amparar que pede para não ser identificado por temer – ele próprio – retaliações.
Ele conta que, na segunda semana de junho, diversos pais procuraram a Amparar para relatar violências cometidas contra seus filhos na unidade Raposo Tavares da Fundação Casa. Os agentes foram especialmente cruéis com os internos: “Um dos adolescentes estava com a mão machucada, os agentes bateram sistematicamente nessa mesma mão. Outro estava ferido na cabeça, ele tinha apanhado com o cassetete até rasgar. De novo bateram na cabeça dele”, afirma. “É importante ressaltar que essas não são violências isoladas, isso acontece com frequência. É a pedagogia do cassetete”.

Morte na Polinter e a manipulação de perícias
A história de Indaiá Mendes Moreira mostra a gravidade e a urgência de se obter controle sobre as forças policiais. Em menos de dois meses, seu filho foi preso por tentativa de assalto, torturado e morto dentro da carceragem da Polinter de São Gonçalo, Rio de Janeiro.
Em fevereiro de 2009, ao receber a notícia sobre a prisão de Vinícius Moreira, então com 20 anos, Indaiá foi a duas carceragens verificar onde ele estava. Mas os agentes se recusaram a dar informação. Ela teve que ameaçar chamar a imprensa para ter a confirmação de onde o filho estava preso. Depois de um mês de visitas, Indaiá já estava assustada com as histórias que ouvia na fila: casos de detentos sendo agredidos, extorquidos e ameaçados pelos policiais. “Teve um dia que um agente falou bem alto pra uma mãe na fila: “A senhora quer seu filho? Vai procurar no IML [Instituto Médico Legal]’”.
Ela lembrou da frase ao acordar com um mau pressentimento na manhã de visita e ligou para o advogado para que a acompanhasse até a carceragem. Lá, foi informada que seu filho estava doente e tinha saído há poucas horas para o hospital. Correu para lá e os médicos disseram que Vinícius havia sido levado para o hospital na noite anterior, mas nem chegou a sair do carro da Polícia Civil. “Na porta já mandamos levar ao IML”, ela ouviu do médico.
No IML, a família notou diversas marcas de agressão no corpo de Vinicius, que não estavam no laudo entregue pelo instituto. Proibidos de fotografar o corpo, os familiares tiveram que despi-lo no dia seguinte, pouco antes do enterro, para registrar os machucados.
Mesmo com a repercussão na imprensa, o inquérito foi arquivado em abril desse ano. Um dos argumentos do promotor é que não seria possível determinar quem matou Vinícius.
Peritos coniventes com a tortura
Como a ouvidoria, a perícia médica também padece do vício de ser ligada à corporação policial. “Há muitos estados em que a perícia é diretamente subordinada à administração da polícia civil, como o Rio de Janeiro e Minas Gerais”, afirma a médica legista Débora Vargas, membro do Grupo de Peritos Independentes para a Prevenção da Tortura e da Violência Institucional, ligado à Secretaria dos Direitos Humanos. “Nossa visão é aproximar a perícia de um serviço técnico, distanciar dos órgão de repressão”. Ela cita o exemplo de Portugal, onde os grupos de perícia são ligados às universidades.
A autonomia da perícia é outra recomendação feita pelo relatório da ONU, e sua importância já foi aferida na prática pela Pastoral Carcerária: muitos detentos agredidos no momento da prisão, portanto, antes do exame médico obrigatório ao ingressar no presídio, não têm as marcas das sevícias registradas nos laudos. Segundo algumas denúncias feitas à entidade, alguns policiais esperam de 15 a 20 dias para levar o preso ao médico – período em que as marcas cicatrizam. Também é muito comum que o mesmo policial que comete a agressão leve o preso ao médico e, em muitos casos, acompanha o exame. “Isso acontece no Brasil inteiro”, afirma Débora. “Temos dificuldade de fazer com que PM e polícia civil aceitem que o preso deve ficar na sala sozinho com o médico legista”, diz.
Há casos extremos em que os médicos nem olham para as vítimas, como ocorreu segundo denúncia na cidade de Tefé (650 quilômetros de Manaus), feita por quatro detentos à equipe da Pastoral. Suspeitos de tráfico de drogas, eles contam que ficaram quatro dias amarrados dentro de um barco antes de serem conduzidos à prisão: “Presos em correntes, esmurrados e sufocados com o saco plástico na cabeça. Ameaçados com armas de fogo apontadas para suas cabeças,” descreve o relatório da Pastoral.
Ao final desses dias, os quatros presos foram levados para o exame de corpo de delito. “Ao chegarem na clínica, permaneceram na viatura e o comandante trouxe o laudo já assinado pelo médico”, descreve o relatório. Segundo testemunha que viu o exame, mas prefere não se identificar, o único registro no documento é de marca da algema.
O relatório cita nominalmente um major da Polícia Militar como autor das diversas torturas relatadas por esse e outros presos da cidade. O documento foi encaminhado à Defensoria e Ministério Público.
A tortura psicológica e a carta de suicídio
Se sociedade e governo não reagirem, a violência policial, especialmente contra os detentos, ela tende a se agravar com a superlotação dos presídios, alerta o padre Valdir João Silveira, coordenador nacional da Pastoral Carcerária. Entre 2005 e 2011, o número de presos cresceu 42%, aponta o padre. Só em São Paulo, que tem a maior população carcerária do país, 2011 terminou com 9.417 presos a mais que 2010 – o que dá uma média de 25 presos novos por dia no estado. Para o padre Valdir, a necessidade de contenção aumenta com a superlotação, gerando mais violência.
“A tortura acontece como castigo para que os presos não se amotinem, não reivindiquem, não peçam para ser lembrados de que estão vivos”, afirma Luciano Mariz Maia, Procurador da República em Recife e membro do Comitê Nacional Contra a Tortura.
Nem sempre a violência cruel que define a tortura se expressa em pancadas e sufocamentos. Nos relatos colhidos pela pastoral, há casos de presos que dormem no chão sujo da cela e até no chão do banheiro, presos que disputam espaço com ratos durante a noite, celas que ficam constantemente molhadas devido a vazamentos e presos que têm constantes infecções alimentares e alergias na pele devido à comida inadequada.Tudo isso, segundo o procurador, é tortura.
José Carlos Brasileiro, presidente e fundador do Instituto Nelson Mandela, organização civil que nasceu dentro do sistema carcerário, alerta para a tortura psicológica que essas situações provocam: “A força do terror psicológico é dos maiores: ele condiciona a pessoa à inferioridade, humilhação, ao medo constante. A pessoa vai pro isolamento, leva porrada, fica com a mão para trás e cabeça curvada. Imagina quais são as consequências desse tratamento no longo prazo?”
Foi esse cenário que levou o detento Célio Rodrigues a pensar em suicídio e manifestar essa intenção em uma carta manuscrita em junho do ano passado. A carta foi entregue à Pastoral Carcerária por um colega de cela depois que Célio morreu, após deixar a prisão de São Gabriel da Cachoeira, Amazonas. Preso há “6 longos anos”, Célio escreveu: “Já passei por tantas humilhações nesse lugar principalmente agressões verbais e agora físicas também. Tô sofrendo muito e pra completar, (…) dois cabos entraram na cela e tiraram os materiais de uso pessoal e higiênico (…) ainda me agrediram fisicamente”. E continua: “Por eu ser o detento mais antigo, sei de muitas coisas, coisas que eles fazem de errado aqui nesse lugar, (…) como a entrada de celulares, entorpecentes e algumas outras facilitações, e também agressões da parte deles com outros detentos e isso acontece sempre. Eles sabem que eu sei de tudo isso, tenho muito medo deles fazerem alguma coisa comigo, é por isso e outras coisas, abandono da família, que tento me matar. Embora eu saiba que quando sair daqui eles vão querer me matar”.
Vexame e tortura também entre familiares dos presos
“Existe um preconceito arraigado entre os que operam no sistema de Justiça de que a pessoa com uma condenação – ou suspeita de um crime – está desprovida de um atributo inerente ao ser humano: a dignidade”, afirma Kenarik Boujikian, desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo e co-fundadora da associação Juízes para a Democracia.
Em muitos casos, essa visão se estende à família dos presos, ela observa, principalmente em relação às mulheres que vão visitar seus maridos ou parentes na cadeia. O procedimento padrão de revista em muitas penitenciárias do país é fazer a mulher tirar toda a roupa e abaixar seis vezes (três de frente, três de costas) na frente da agente penitenciária.
Um procedimento que pode ser considerado tortura pela imposição de sofrimento psicológico contínuo como explica Cristina Rauter, psicóloga da Universidade Federal Fluminense e membro da equipe clínica do Grupo Tortura Nunca Mais. “É uma situação delicada que conjuga estereótipos da sexualidade, proibições e vergonhas. Você ser obrigado a se desnudar na frente dos outros e mostrar as partes sexuais já mexe com muitos tabus, proibições, valores. Fazer isso associado à suspeita de um crime é muito cruel. Eles sabem que o familiar já tem vergonha por estar ali e exploram isso”.
A costureira Patrícia Okorie, que entre 2010 e 2011 visitava mensalmente o marido na penitenciária Franco da Rocha 2, na grande São Paulo, já estava acostumada com esse procedimento. “Eu só não gostava quando mandavam abrir a vagina com as mãos”, lembra. “Mas a gente evita reclamar”.
Os largos limites de sua tolerância foram testados numa manhã de setembro de 2011. Patrícia chegou cedo, era a quarta da fila. Quando abaixou pela primeira vez na sala de revista, a agente colocou as mãos em seus joelhos, forçando para que ela abrisse as pernas. “Eu disse que não permitia aquilo, ela se irritou e chamou uma PM”. Enquanto esperava, Patrícia era humilhada pela agente, que insistia que ela escondia drogas na vagina. Ao final da segunda revista (dessa vez segurando a respiração enquanto abaixava na frente de duas agentes e da PM), Patrícia chorou e desabafou: “Você me acusou injustamente, vou procurar os meus direitos”.
Por mencionar seus “direitos”, Patrícia foi acusada de desacato à autoridade com suspensão de direito de visita por 30 dias, e obrigada a ir a um hospital fazer uma revista “ginecológica” – exame feito por um ginecologista para buscar drogas dentro da vagina. “Tive que assinar um papel dizendo que estava indo de livre e espontânea vontade. Eu disse que não era verdade e me mandaram calar a boca”.
No hospital, Patrícia conta que esperou a médica, que estava em cirurgia, por horas. Quando entrou no consultório, a médica pediu que ela deitasse na maca com os pés para o alto. “Achei que iam fazer ultrassom, quando vi que era exame com as mãos fiquei com muito medo”. A médica introduziu então um “aparelho que girava”, provavelmente um espéculo vaginal, ferramenta que abre o canal vaginal em direção ao útero, utilizada em exames de rotina. Assustada e sem entender o que ia acontecer, ela contraiu os músculos abdominais, fazendo força para resistir ao movimento do espéculo. “A cada vez que ela rodava aquela máquina por baixo, doía. Teve uma hora que ouvi um estalo e senti muita dor, segurei o braço da médica e pedi pra ela parar”, afirma. “No final do exame, fiquei em pé e vi um fio de sangue escorrer pela minha perna”.
A médica não encontrou nenhum substância ilícita no interior do corpo de Patrícia.
Atormentada pela humilhação, sem conseguir dormir, Patrícia pesquisou seus direitos na Internet e achou a Ação dos Cristãos para a Abolição da Tortura (ACAT), que dá assistência psicológica e jurídica às vítimas. Resolveu entrar com um processo de tortura contra a agente, mas conta que foi chamada pela direção do presídio e recebeu uma ameaça: se continuasse, o marido seria transferido “para bem longe”.
Logo depois de ser chamada pelo diretor, ela foi visitar o marido. “Eles foram bem educados, nunca fui tão bem tratada ali dentro”, ela lembra. “Foi tudo direitinho: três de frente, três de costas”.
Só quando o marido saiu da cadeia, Patrícia pode entrar com uma ação contra as agentes do presídio.
Impunidade
Mesmo quando conseguem denunciar os crimes de tortura e entrar com ações judiciais, ainda é preciso conseguir um julgamento justo, o que é bastante difícil. Os problemas começam com a própria lei contra tortura, de 1997, que estabelece que o crime pode ser praticado por qualquer pessoa – não apenas agentes do Estado. Isso significa que a mesma lei que enquadra as violências praticadas por “Zero Um”, de Manaus, também vale para babás que batem em crianças. “A lei é genérica, deixa frouxa a interpretação para os tribunais, quase não tem sido utilizada para reprimir”, afirma o procurador Luciano Maia, do Comitê Nacional Contra a Tortura.
“O principal propósito da criação dessa lei é evitar que policiais, agentes penitenciários ou autoridades públicas deliberadamente inflijam violência física e mental a pessoas submetidas a sua autoridade”, argumenta. “Mas quase não tem sido utilizada para isso”.
A tendência da Justiça é condenar mais civis do que agentes do estado por tortura revela uma pesquisa do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, que analisou o desfecho de 57 julgamentos de acusados de tortura que passaram pelo Tribunal de Justiça de São Paulo entre 2000 e 2008. A pesquisadora Maria Gorete Marques mapeou os resultados em primeira instância que envolviam 203 réus, dos quais 181 eram policiais ou agentes penitenciários e 22 eram civis. A pesquisadora chegou à conclusão que a proporção que se inverte na hora da condenação: apenas 18% dos agentes julgados foram condenados por tortura, contra 59% dos civis. Ou seja, a taxa de condenação dos agentes do estado foi três vezes inferior à condenação de civis.
O procurador Luciano, que em sua tese de doutorado analisou sentenças de casos de tortura praticada por agentes do Estado diz que o policial já entra em vantagem no sistema que vai julgá-los: “O sistema jurídico evoca o tempo todo a credibilidade do cargo, a presunção de que ele aja corretamente”, diz.
Em uma sentença de Brasília, Luciano encontrou a seguinte afirmação: “A polícia não tem necessidade de recorrer a qualquer espécie de constrangimento para apurar a autoria do delito”. Já em São Paulo, o mesmo desembargador usou o mesmo argumento em oito casos diferentes:“ [os policiais] Jamais iriam correr o risco de responder pelo crime de abuso de autoridade ou de denunciação caluniosa para incriminar alguém que sequer conheciam e com quem não tiveram qualquer desentendimento”.
Todos os policiais dos casos citados foram absolvidos, prolongando o sofrimento das vítimas. Como observa a psicóloga Cristina Hauter, que atende vítimas de tortura da ditadura militar e atuais, a impunidade atrapalha o processo de recuperação, especialmente quando a fala da vítima não é considerada como prova e o processo é arquivado: “Vem um sentimento de desacreditar na justiça, no Estado. As relações de confiança são quebradas e eles se sentem profundamente injustiçados. Esse é o quadro mais complicado de trabalhar”, explica.
Dilma e o legado da ditadura
A visão distorcida da justiça para os casos de tortura policial está ancorada na opinião de um grupo crescente da população – atualmente, quase a metade dos brasileiros. De acordo com pesquisa do Núcleo de Estudos da Violência, feita em 12 capitais, apenas 52% das pessoas ouvidas em 2010 “discordavam totalmente” da ideia de que os tribunais devem aceitar provas obtidas através de tortura. Porcentagem bem menor daquela de 1999, quando respondendo à mesma pergunta, 71% dos entrevistados declararam “discordar totalmente” da prática.
Ainda é difícil prever qual será a influência da Comissão da Verdade no combate à tortura de hoje ao trazer de volta os crimes cometidos no passado. Também é difícil determinar quanto da “tradição” do período militar é responsável pelas práticas policiais dos dias de hoje. Para a desembargadora Kenarik, porém, esse legado de violência foi incorporado à cultura das instituições. “Naqueles anos, havia certos grupos tidos como ‘inimigos do estado’, eles podiam ser torturados. Hoje, apenas mudou o ‘inimigo’”, ela diz.
Tim Cahill, pesquisador da Anistia Internacional para o Brasil, que também faz visitas aos presídios, considera evidente a ligação entre o crime nos dias de hoje e os cometidos no passado, mas ressalta que isso não torna mais difícil enfrentá-lo. “Algumas pessoas dizem que o problema de tortura no Brasil é cultural, como se fosse uma herança inevitável, mas não é verdade”, afirma. “Cada ato é um crime e ele só persiste porque não há uma ação do estado para coibir”.
Cahill se recorda do estrago causado pela fala da presidenta Dilma, ela mesma vítima de torturas durante a ditadura, sobre o tema na Universidade de Harvard em abril desse ano. Depois de palestra, a presidenta foi indagada por um aluno sobre o caso de uma prisioneira política na Venezuela. Em sua resposta, ao justificar porque não se meteria na política do outro país, Dilma mandou uma mensagem perigosa: “Eu sei o que acontece, não tenho como impedir que em todas as delegacias do Brasil de haver tortura”.
Em resposta, 15 organizações que trabalham com o combate à tortura no Brasil, entre elas a Conectas, a ACAT e a Pastoral, soltaram uma nota de repúdio: “É muito grave que a autoridade máxima do País se declare incapaz de coibir o crime de tortura nas delegacias. E é ainda mais grave que tenha escolhido um momento de enorme visibilidade para fazer tal declaração”.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Crimes em alta ampliam debate de pena juvenil

http://www.dgabc.com.br/News/5965741/crimes-em-alta-ampliam-debate-de-pena-juvenil.aspx

Crimes em alta ampliam debate de pena juvenil

Diante da repercussão dos arrastões em restaurantes e da piora nas taxas de criminalidade, o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), voltou a defender ontem aumento da punição de adolescentes infratores. Indagado sobre a redução da maioridade penal, Alckmin disse que esse debate "não daria em nada", mas defendeu duas medidas que, segundo ele, ajudariam a reduzir a criminalidade.
Ele criticou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) por estabelecer o limite de três anos para internação do menor infrator, independentemente do ato infracional. "Para crimes mais graves, o limite tem de ser acima de 3 anos. Deveria chegar a 10."
A segunda mudança defendida pelo governador é que o jovem seja transferido da Fundação Casa para presídios comuns ao completar 18 anos. Atualmente, quando comete um ato infracional antes dos 18 anos, o adolescente pode ser mantido na Fundação Casa até os 21.
Os chefes das Polícias Civil e Militar também defenderam o endurecimento das punições a adolescentes para reduzir o crime. Na segunda-feira, o comandante-geral, Roberval Ferreira França, pediu a redução da maioridade penal. Segundo ele, das 31 pessoas presas nos arrastões a restaurantes, 14 eram menores. Já o delegado-geral, Marcos Carneiro Lima, defendeu o aumento de pena para homicídios.
"É um contrassenso porque as pesquisas já mostram que aumento de pena não diminui crime. O importante é que o criminoso tenha ciência dos riscos de ser punido. O que exige polícias mais eficientes", rebateu o defensor público da Infância e Juventude, Flávio Frasseto.
Segundo a assessoria do governador e da Fundação Casa, não há intenção por parte do Estado de enviar projeto a Brasília para mudar a lei. O assunto costuma voltar à tona em épocas de crises de segurança. Em 2008, quando era governador, José Serra já havia defendido as mesmas medidas. O próprio Alckmin também já tinha sugerido o tema em 2003, logo depois de uma série de rebeliões na Fundação Casa. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Em menos de quatro horas, São Paulo e região registram nove mortes

Até o momento, não há pistas sobre os responsáveis; ações acontecem no momento em que as polícias do Estado estão em alerta em razão de execuções de PMs

Agência Estado |
Agência Estado
Uma chacina, ocorrida em Poá, na Grande São Paulo, e outros cinco homicídios, quatro deles na zona sul e um na zona leste da capital, deixaram um total de nove mortos entre as 20h30 de segunda-feira, 25, e o início da madrugada desta terça-feira, 26. Até o momento, a polícia não tem pistas dos responsáveis pelos assassinatos nem possui dados que indiquem a causa dos crimes. Entre a noite de domingo, 24, e a madrugada de segunda-feira, 25, já haviam ocorrido outros oito assassinatos na Região Metropolitana de São Paulo, segundo o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Dois ônibus foram incendiados na noite de ontem, segunda-feira, 25, e madrugada desta terça-feira, 26, em Sapopemba, na zona leste de São Paulo, e no Sacomã, na zona sul. As ações dos criminosos acontecem no momento em que as polícias do Estado de São Paulo estão em alerta em razão de uma série de execuções de policiais militares e ataques a bases da PM, ocorridos neste mês.
Agência Estado
Dois ônibus foram incendiados em São Paulo: um na zona sul (foto) e outro na zona leste

Eram 20h30 quando Dênis Silva Aparecido, de 19 anos, Hederton José Cunha, 16, Raimonde Anunciação Batista, 20, e Estevam Marine de Campos, 19, foram baleados quando estavam reunidos na rua Pará, no Jardim Picosse, em Poá, região leste da Grande São Paulo.
Policiais militares, acionados por moradores do bairro que ouviram os tiros, chegaram no local e encontraram as quatro vítimas caídas em via pública. Mesmo levados para o pronto-socorro central da cidade, os quatro jovens não resistiram e morreram. Não se sabe quantos eram os atiradores nem se chegaram a pé ou em algum veículo.
A chacina, cuja causa ainda é um mistério, foi registrada no Distrito Policial Central da cidade pelo delegado Cleverson Arnufo Omena e será investigada pelo DHPP. Essa é a quinta chacina do ano registrada na Região Metropolitana de São Paulo, subindo para 16 o número de mortos neste tipo de crime. Foram quatro chacinas nas cidades da Grande São Paulo e uma na capital até o momento, segundo levantamento feito pela reportagem.
Mais violência
Somente na delegacia do Capão Redondo (47ºDP), na zona sul da capital, foram registrados três homicídios na noite de segunda-feira, 25, segundo o DHPP. A catadora de papel, Luciene da Silva, assim identificada por testemunhas, foi encontrada morta, às 20h15, com ferimentos na cabeça em um terreno baldio na Rua Antípodas, no Parque Bologne, região do Jardim Ângela.
Três horas depois, Alexandre Rodrigues de Oliveira, de 33 anos, foi encontrado ferido com vários tiros na Avenida Fim de Semana, no Jardim São Luís. Também levado pela PM para o pronto-socorro do Campo Limpo, o rapaz acabou morrendo. Era quase meia-noite quando Washington Santos Nascimento, de 25 anos, era alvo de atiradores na rua Francisco Xavier de Sales, também no Jardim São Luiz. A vítima morreu quando era atendida no pronto-socorro do Campo Limpo. Estes três casos comunicados no 47ºDP foram registrados pelo delegado Júlio Ricardo de Oliveira.
Por volta das 22h30, na porta de casa, na rua Jean Gabriel Villin, Agacis Fernandes da Silva, de 37 anos, foi baleado por desconhecidos. Ferido na cabeça e na barriga, Fernandes morreu quando era atendido no pronto-socorro do Hospital Geral de Pedreira. O caso foi registrado no 98º Distrito Policial, do Jardim Miriam, pelo delegado Ricardo Piva. À 0h05 desta quarta-feira, 26, José da Silva Barbosa Júnior, de 30 anos, foi baleado várias vezes na rua Jabiru, no Jardim Robru, zona leste da capital. A vítima morreu mesmo sendo encaminhada para o pronto-socorro Júlio Tupy, em Guaianazes. O homicídio foi registrado no 50º Distrito Policial, do Itaim Paulista, pelo delegado Mateus Cintra de Andrade.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Relatório sobre a visita ao Brasil do Subcomitê da ONU de Prevenção da Tortura


COLETIVO DAR
Assinado em 18 de dezembro de 2002 na 57ª sessão da Assembléia das Nações Unidas, o Protocolo Adicional à Convenção contra a Tortura (OPCAT) – que passou a vigorar a partir de 2006 – estabeleceu, entre as novidades frente aos anteriores documentos de conteúdo semelhante, a criação do Subcomitê de Prevenção da Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (SPT), destinado a fiscalizar qualquer estabelecimento de privação de liberdade ou de tratamento em restrição de liberdade, bem como apurar práticas irregulares e ilegais que possam configurar tortura ou congêneres.
Diante disso, no mês de setembro de 2011, o Brasil foi visitado pela equipe do SPT, que cumpriu agenda nos estados de Goiás, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro. No estado paulista, dedicaram-se apenas aos estabelecimentos infanto-juvenis, como a Unidade Experimental de Saúde de São Paulo (UES). Conforme o decreto estadual n. 53.427/08, à declarada exceção ao Sistema Único de Saúde, a UES foi criada com a finalidade de perpetuar a privação de liberdade de jovens com “alta periculosidade” que teriam completado o tempo limite de internação socioeducativa e/ou fossem interditados civilmente. Com isso, desde 2006, por ela passaram apenas 9 jovens, restando, até o momento, 6 com idade até 25 anos. Estão, no total das medidas privativas de liberdade, em média, há 7 anos e meio presos.
No início do mês de junho de 2012, a Presidência da República, destinatária do documento avaliativo do SPT, publicou o Relatório sobre a visita ao Brasil do Subcomitê de Prevenção da Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, dentro do qual restou comprovada a situação de tortura mantida tanto pelo Poder Judiciário – responsável pela contínua internação – quanto pelo Poder Executivo, gestor de uma unidade que “não é uma unidade de medidas socioeducativas, nem foi prevista pelo ECA. Tampouco se trata de uma prisão, centro de detenção preventiva, ou hospital de custódia e tratamento. Os detidos nessa unidade já tinham cumprido a sentença máxima de 3 anos como menores. Eles permaneceram, entretanto, detidos por um período de tempo ilimitado devido a sua suposta periculosidade”.
Sendo assim – e em razão da responsabilidade do país diante dos acordos internacionais subscritos – é o Estado Brasileiro o maior responsável pela situação, de modo que a SPT “recomenda que a unidade de saúde experimental seja desativada” (parágrafo 157, p. 30).
O texto completo do Relatório sobre a visita ao Brasil do Subcomitê de Prevenção da Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes pode ser acessado por aqui e abaixo seguem mais alguns trechos do documento em relação à Unidade Experimental de Saúde em São Paulo:

“Essa unidade foi criada sob a égide do predecessor da Fundação CASA e posteriormente foi transferida para a Secretaria de Saúde de São Paulo, em virtude de um decreto executivo. A Unidade Experimental de Saúde não é uma unidade de medidas socioeducativas, nem foi prevista pelo ECA. Tampouco se trata de uma prisão, centro de detenção preventiva, ou hospital de custódia e tratamento. Os detidos nessa unidade já tinham cumprido a sentença máxima de 3 anos como menores. Eles permaneceram, entretanto, detidos por um período de tempo ilimitado devido a sua suposta periculosidade. O SPT expressa grande preocupação com a situação legal dos detidos nesse centro e com o sofrimento mental que uma detenção sem prazo definido pode causar.

O SPT recomenda que a unidade de saúde experimental seja desativada. O SPT também recomenda que se respeitem estritamente as disposições do ECA, de acordo com as quais o período máximo de internação de crianças e adolescentes não deve exceder três anos e a liberação deve ser compulsória aos vinte e um anos”

http://coletivodar.org/2012/06/relatorio-sobre-a-visita-ao-brasil-do-subcomite-da-onu-de-prevencao-da-tortura/

http://coletivodar.org/wp-content/uploads/2012/06/relatorio_do_SPT.pdf

A juventude na periferia está sendo exterminada!

A juventude na periferia está sendo exterminada!

Em maio de 2006, 493 jovens foram assassinados na baixada santista. Segundo dados do IML foram possíveis constatar que 60% dos 493 corpos registrados no período receberam pelo menos um tiro na cabeça, e 57% dos cadáveres receberam pelo menos um disparo pelas costas. Até hoje, ninguém foi punido!
Hoje 25/06/20012 na cidade de Santos ocorreu o julgamento de um policial que está sendo acusado de assassinar nove jovens na baixada Santista. Resultado: nada ficou provado, nada foi esclarecido para os parentes das vitimas, devido a insuficiência de provas.

Por coincidência nesta madrugada de segunda feira o MC Neguinho quando voltava para casa após um show teve seu carro alvejado levando quatro tiros nas costas, por sorte passa bem e aguarda alta.

Já outros MCs da baixada não tiveram a mesma sorte, no dia 29/04/2012 Cristiano Carlos Martins, 33, foi morto a tiros e no dia 19 de abril, Jadielson da Silva Almeira, 28 anos, também foi morto a tiros.

Na baixada santista, outros jovens MCs em outros anos também foram assassinados como o MC Felipe Boladão e o DJ Felipe da Silva Gomes.

E assim morrem Felipes, Barbaras, Camilas e Diegos. Filhos da periferia que o Estado se omite a dar uma resposta, e por quê? Será ele mesmo o grande assassino da população pobre? Sim. O Estado existe para ser um instrumento de garantias, o contrário disso, é apenas um instrumento de opressão e exclusão do povo, e isto, historicamente tem sido o grande papel do Estado: oprimir e massacrar a população pobre.

Não se deixe iludir o Estado é o grande assassino sempre!

Força e solidariedade a todas as famílias que perderam pessoas queridas!

Tamujunto!

Mães de Maio Mães de Maio
RÁDIO DA JUVENTUDE http://www.ustream.tv/recorded/23514782

Após show, cantor de funk é baleado em São Vicente, SP

Após show, cantor de funk é baleado em São Vicente, SP

Neguinho do K-xeta foi atingido por quatro tiros. Mulher pulou do veículo.
Nos últimos meses, dois MCs foram assassinados na Baixada Santista.

http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2012/06/apos-show-cantor-de-funk-e-baleado-em-sao-vicente-sp.html

Do G1 Santos
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Carro de MC é atingido por tiros em São Vicente (Foto: Mariane Rossi/G1)Carro de cantor de funk é atingido por vários tiros em
São Vicente (Foto: Mariane Rossi/G1)
O cantor de funk Julio Cesar Ferreira, conhecido como “Mc Neguinho do K-xeta”, foi baleado no começo da manhã desta segunda-feira (25), em São Vicente, no litoral de São Paulo. O músico foi atingido por quatro tiros e encaminhado ao Pronto Socorro do Hospital Municipal de São Vicente.
Segundo André de Sousa, padrasto do funkeiro, o cantor realizou um show na Capital na noite deste domingo (24) e, em seguida, foi para um restaurante em São Vicente. Por volta das 5h, após encontrar amigos em um posto de combustíveis, o cantor foi levar duas amigas em casa, no bairro Cidade Náutica III, quando um veículo emparelhou com o carro e disparou vários tiros.
De acordo com a Polícia Militar, a mulher que estava no banco do passageiro acabou tendo ferimentos no rosto após se jogar do carro em movimento para escapar dos disparos. Já o cantor, que estava dirigindo, foi atingido por quatro tiros nas costas. Um dos projéteis acabou ficando alojado no ombro direito. Já a outra mulher se agachou dentro do veículo e não foi baleada.
O padrasto do rapaz explica que o Mc conseguiu continuar dirigindo até chegar em casa. O cantor chegou ao local junto com a amiga que estava no banco de trás do carro. "Ele falou que tinha um veículo atrás dele. Ele chegou e me disse 'Me ajuda que eu vou morrer'", lembra Sousa. Neguinho da K-xeta ainda disse, segundo o familiar, que estava sendo perseguido desde o restaurante.
O cantor foi encaminhado consciente para o Pronto Socorro do Hospital Municipal de São Vicente. Segundo informações da Polícia Militar, que conversou com a médica que atendeu o rapaz, Neguinho do K-Xeta permanecerá internado por causa da bala alojada no ombro. Ainda segundo a PM, mais de 10 marcas de tiro foram encontradas no veículo do cantor, que foi encaminhado para o 1º Distrito Policial de São Vicente, onde passará por uma perícia técnica.
Outros atentados
Nos últimos dois anos, quatro cantores de funk foram mortos na região. O atentado contra Neguinho do K-xeta foi o terceiro apenas em 2012. Cristiano Carlos Martins, o MC Careca, foi morto a tiros no dia 28 de abril no conjunto habitacional Dale Coutinho, no bairro Castelo, em Santos, no litoral de São Paulo. Ele foi baleado próximo a um salão de cabeleireiro onde trabalhava.
Dias antes, Jadielson da Silva Almeida, o MC Primo, também foi morto a tiros em São Vicente. Ele foi executado com vários tiros na frente do casal de filhos, no bairro Jóquei Clube, em São Vicente. Ele chegou a ser levado para o Hospital Crei de São Vicente, mas não resistiu aos ferimentos.
Em 2011, Eduardo Antônio Lara, mais conhecido como MC Duda do Marapé, foi assassinado no dia 12 de abril com nove tiros sob o elevado ao lado da Rodoviária de Santos, região popularmente conhecida como Cracolândia. De acordo com testemunhas, uma moto com homens armados passou pelo local por volta das 6h e efetuou vários disparos, atingindo o funkeiro de 27 anos. Ele não resistiu e morreu no local. Após um ano, o crime continua sem solução e a Polícia Civil não tem pistas sobre quem o matou.
Um ano antes, em 2010, Felipe Wellington da Silva Cruz, o MC Felipe Boladão, foi assassinado no dia 10 de abril em Praia Grande, enquanto se preparava para um baile funk na cidade de Guarulhos. Ele aguardava uma carona para o ABC Paulista junto com o amigo e colega de trabalho Felipe da Silva Gomes, conhecido como DJ Felipe da Praia Grande. Dois indivíduos em uma moto pararam no local e um deles desceu do veículo e disparou contra eles. Os dois tinham 20 anos quando foram mortos.