domingo, 7 de dezembro de 2014

Video Por um mundo sem prisões - sobre a Associação Amparar

Em parceria com o coletivo Quebrada.doc, a Associação de amigos e familiares de presos/as Amparar construiu um video apresentando a associação e falando sobre a questão do encarceramento no Brasil e o quanto essas prisões são em si uma violência contra a classe trabalhadora.


O video foi apresentado pela primeira vez na Roda de Conversa "Quebrando as grades", ocorrida em 06/12/2014, na Cohab II -Itaquera/SP, que reuniu familiares, egressos do sistema prisional, militantes de diversos movimentos sociais e moradores da região.

Disponibilizamos aqui este material para que conheçam a Associação e divulguem, principalmente aqueles que assim como nós sofrem devido violência do Estado e faz desta dor uma luta coletiva por uma outra sociedade! 


amparar - por um mundo sem prisões from quebrada.doc on Vimeo.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

PETIÇÃO PELO FIM DA REVISTA VEXATÓRIA NA FEBEM/FUNDAÇÃO CASA


PELO FIM DA REVISTA VEXATÓRIA NA FEBEM/FUNDAÇÃO CASA

ACESSE: http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=revista-vexatoria

O Núcleo Especializado de Infância e Juventude da Defensoria Pública do Estado de São Paulo vem, por meio de nota pública, manifestar repúdio à continuidade da realização de revista vexatória à qual são submetidos todos os visitantes de adolescentes custodiados em Unidades de Privação de Liberdade nos diversos Estados Brasileiros.

A revista vexatória, como se sabe, é realizada de maneira manual, invasiva, com desnudamento total ou parcial das vestes, agachamentos repetitivos e inserção de objetos nas cavidades corporais, na tentativa de verificar a existência de algum objeto ilícito. Por causar intenso sofrimento físico e moral, acarretar humilhação social, não encontra amparo no ordenamento jurídico nacional e internacional, assemelhando-se ao tratamento cruel, segundo recente pronunciamento da Organização das Nações Unidas. Apesar de sua realização afrontar a dignidade inerente a todos os seres humanos, sua existência ainda persiste no Sistema Penal Brasileiro e com maior intensidade no Sistema Socioeducativo.

Apoiamos projetos de Lei em âmbito nacional e estadual que tratem do tema e clamamos aos demais Atores Sociais que se juntem a nós neste manifesto, a fim de sensibilizar o Poder Público, o Poder Judiciário e o Ministério Público quanto à patente ilegalidade desta forma de revista e sua substituição por métodos mecânicos.

Para ler a íntegra da Nota Pública, clique aqui: http://goo.gl/APrAk4

Contamos com sua participação nesta petição pública. Ajude-nos a acabar com essa prática ilegal.




Imagens do livro de procedimentos para a realização das visitas, publicado pela Fundação Casa.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

CARTA DENUNCIA - Adolescentes escrevem carta denunciando tortura na CASA VILA GUILHERME

Nesta segunda-feira, 10de novembro de 2014 a AMPARAR recebeu carta-denuncia dos adolescentes da Casa Vila Guilherme, relatando as torturas que tem ocorrido na Unidade contra eles. 

Deixamos a público a voz deste meninos que, encarcerados, são sumetidos as bárbaries do sistema, praticadas por funcionários e de responsabilidade da presidente da instituição e do governador do estado de São Paulo. 

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Quebrando as grades 06 de dezembro, na Amparar


Salve companheir@s,

No dia 06 de dezembro, das 9h30 as 16h, a Associação de amigos e familiares de prs@s AMPARAR vai realizar uma roda de conversa sobre encarceramento em massa e a luta pelo fim das prisões.

Serão convidados familiares, egressos, moradores da região, militantes dos coletivos políticos da zona leste e de demais locais, conselhos profissionais e intelectuais pra somar nesse bate papo e nessa luta.

A intervenção poética e musical fica por conta da casa!

O endereço é Rua Eugenio Albani, 150 - Sala F - Conjunto Jose Bonifacio (a 10 minutos da estação José Bonifácio da CPTM) - Lado Leste Itaquera.

Aguardamos seu retorno e até lá,

Abraços

Amparar

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Panfleto Amparar


PRISÕES ONTEM E HOJE

Poesia 2 de Outubro

No dia 2 de outubro de 1992, mais de 111 pessoas presas foram assassinadas pelo Estado na antiga Casa de Detenção Carandiru. Este fato ficou conhecido como Massacre do Carandiru. 

Relembrando os 22 anos do massacre e denunciando os massagres da atualidade, vários movimentos sociais e coletivos - inclusive a Amparar - estiveram nas ruas lutando pelo fim das prisões.

Nossa companheira, ex-presidiária, registrou essa data através de uma poesia, e compartilhamos aqui com vocês: 

 

2 de Outubro
Choro de Lagrimas Negras pelos 111

Negras pelo tempo
Negras pelas peles
Negras pela demora
Negras pelo sangue
Negras pelas ausências
Negras pelas indiferenças
Negras pela indiferença
Negras pelo desamor
Negras pelos abusos
Negras pelo sofrimento
Nefras pelas lutas
Ngras pela esperança
Negras e brancas , na luta da ressocialização para não existir mais nenhuma lágrima

Escrito por Tempestade



segunda-feira, 15 de setembro de 2014

FEBEM/FUNDAÇÃO CASA - DENUNCIAS DE AGRESSÃO CONTRA ADOLESCENTES - COMPLEXO BRÁS



Familiares denunciaram espancamento constante contra os adolescentes, dentre eles o filho de uma das familias denunciantes, que foi agredido na lateral da cabeça e queixa de dor por conta da agressão.Também denunciaram que os adolescentes estão dormindo apenas com cueca quando chegam na unidade, como forma de tortura psicológica. Além disso, familiares reclamaram sobre a falta de recurso para o transporte para que as famílias possam visitar com frequencia os adolescentes.
Muitos relatos de denuncia também foram sobre as violência que estes adolescentes sofreram nas abordagens policiais, antes da entrada na unidade, assim como ameaças de morte, e que, ao ser relatado pelo Juiz não foi considerado tais fatos.
Diferente do que a mídia demonstra, a FEBEM/Fundação Casa não é o centro educativo para formação de grandes matemáticos, e sim um grande centro de concentração, que hoje no estado de São Paulo encarcera por volta de 10 mil jovens, em sua maioria negros e periféricos.As prisões e as torturas fazem parte da política de governo contra nós e a nossa juventude das periferias.

Por isso lutamos pela defesa dos direitos humanos e pelo fim das prisões!

domingo, 24 de agosto de 2014

Morte na Fundação Casa provoca protesto



Familiares e amigos do adolescente morto há oito dias se manifestam para buscar respostas sobre óbito suspeito

23/08/2014 - 16:23
Jornal A Cidade - Lucas Catanho
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Sérgio Masson
Mãe e familiares protestam em frente a Fundação Casa onde adolescente foi morto (Foto: Sérgio Masson)
Familiares e amigos do adolescente Fabrício de Souza Araujo, 16 anos, protestaram em frente à unidade Rio Pardo da Fundação Casa no início da tarde de ontem, em Ribeirão Preto.
De acordo com a mãe do jovem, a açougueira Maria do Socorro Marçal da Silva, 36 anos, a manifestação teve como principal objetivo buscar respostas à morte suspeita do adolescente ocorrida no último sábado, dia 16 de agosto.
O protesto pacífico ocorreu uma semana depois da morte do interno da Fundação Casa. Pessoas próximas ao jovem, como a mãe dele, acreditam na hipótese de que o adolescente morreu em decorrência de agressão e não engasgado por uma bolinha de desodorante roll-on, versão apresentada pela entidade.
“Quero saber realmente o que aconteceu com o meu filho. Como uma bolinha de desodorante pode ter matado ele?”, questiona.
Ao todo, cerca de 30 pessoas participaram do protesto. Os manifestantes levaram cartazes com reivindicações de paz e justiça e alguns exibiam fotos feitas pela família do adolescente com ferimentos na cabeça, braço, pescoço e com a mão quebrada, segundo informações transmitidas pela mãe do jovem.
O protesto teve início às 11h e ocorreu de maneira pacífica até por volta das 17h. Algumas mães que esperavam o horário da visita aos internos também participaram da manifestação.
“A única esperança que eu tenho para poder viver em paz é ter essa resposta. Meu filho estava pagando por tráfico, foi preso pela primeira vez, mas era um bom menino, um bom irmão, não era criminoso. Enquanto não me derem essa resposta os protestos vão continuar”, defende a mãe.
Conforme o jornal A Cidade divulgou na edição de terça-feira, dia 19 de agosto, a Polícia Civil de Ribeirão Preto e a Corregedoria da Fundação Casa vão investigar a morte do adolescente.
O jovem, que cumpria internação na unidade Rio Pardo, chegou com parada cardiorrespiratória à UBDS (Unidade Básica Distrital de Saúde) da Vila Virgínia no início da tarde de sábado, 16 de agosto, e morreu logo em seguida.
A família do jovem não acredita na versão preliminar apresentada pela Fundação Casa para explicar a morte. A Prefeitura de Ribeirão Preto também contesta as informações passadas pela instituição em relação ao atendimento prestado a Fabricio e à causa de sua morte.
A reportagem do A Cidade tentou contato com a assessoria de imprensa da Fundação Casa ontem à tarde, mas ninguém atendeu ao telefone na sede da instituição, em São Paulo.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

NOTA: A POLÍTICA DA PRISÃO E A PRISÃO DA POLÍTICA

NOTA: A POLÍTICA DA PRISÃO E A PRISÃO DA POLÍTICA

 

"Todo camburão tem um pouco de navio negreiro..."

A política da prisão e a prisão da política – nota da Rede 2 de Outubro sobre as detenções de ativistas e da população pobre e preta no Brasil

A violência sistemática empregue pelo sistema penal se tornou mais evidente à classe média desde que as lutas travadas nas ruas se intensificaram em junho do ano passado.

De lá para cá, o Estado estendeu seu aparato repressor contra todas as pessoas  que se prontificam a atuar politicamente fora dos caducos espaços institucionais, demarcados para o exercício da “grande política”, processo que foi acentuado pelo espetáculo futebolístico neoliberal promovido pela FIFA, com sua inerente política de lei e ordem.

O resultado é a atual criminalização dos movimentos sociais e a identificação do “vândalo” como mais um inimigo público. Estudantes e professores universitários voltam a ser alvos de prisões e torturas. As sessões de socos e chutes pelas quais passaram Fábio Hideki, Rafael Marques e Murilo Magalhães e o inquérito persecutório sobre Camila Jourdan são apenas alguns exemplos.
 
Massacre do Carandiru - 2 de outubro de 1992
Entretanto, os encarceramentos arbitrários e espancamentos efetuados em delegacias, penitenciárias, prisões para jovens e nas ruas e vielas das grandes cidades são práticas já bem conhecidas pela população marginalizada brasileira. Não é de hoje que agentes policiais surram pessoas jovens e adultas, pretas e pobres e depositam seus corpos vivos ou quase vivos em pocilgas fétidas superlotadas que constituem o gigantesco parque carcerário do país, o terceiro maior do planeta. Atualmente, são mais de 700 mil pessoas presas no Brasil, das quais mais de 60% são negros.
 
Também não é de hoje que o Estado brasileiro prende sem provas e mantém centenas de milhares de pessoas encarceradas sem condenação definitiva (quase metade da população prisional brasileira está nessa situação). Em 2012, somente entre as pessoas presas provisoriamente, mais de 70% sofreram algum tipo de agressão policial no instante em que foram capturadas.

As prisões de ativistas ao longo dos últimos meses escancaram os procedimentos diários do sistema de justiça. Espantados, muitos manifestantes reclamam o caráter político das perseguições e aprisionamentos, invocando a velha distinção entre preso político e preso comum. Parecem querer reservar a si os aspectos injustos da clausura, do sequestro estatal e das agressões físicas que obrigatoriamente o acompanham.

É necessário lembrar, no entanto, que o sistema penal, ao contrário do que é oficialmente propagado, não existe para combater a criminalidade, mas sim para controlar e dividir o povo preto que sobrevive às precariedades das quebradas e que, organizado, poderia derrubar esse sistema de injustiças que nos massacra todos os dias.

A prisão é um instrumento político por excelência. Basta olhar um pouco mais de perto aquelas e aqueles que a ela são enviada/os: em sua imensa maioria, por acusação de pequeno tráfico de drogas ou dos chamados “crimes contra o patrimônio”. No primeiro caso, desdobramento direto de uma política proibicionista que tira daí o seu próprio lucro. No segundo, expressão concreta da defesa da propriedade privada que, no capitalismo, vale mais do que a liberdade de mais de 200 mil “favelados”, “muleques de rua”, “más mães” ou “indigentes” sob privação de liberdade atualmente por furtos ou roubos.
 
Mumia Abu Jamal
Se a prisão é uma estratégia política de contenção e eliminação física de pessoas indesejadas pela alta sociedade, está claro o bastante que toda prisão é uma prisão política. As abomináveis prisões de ativistas no Brasil somam-se às abomináveis prisões que recaem histórica e infalivelmente sobre a população pobre do país. A revisitada criminalização dos movimentos sociais junta-se à velha criminalização da miséria.

Convém, portanto, àquelas e àqueles que lutam por uma sociedade sem classes e opressões, que se unam, desde baixo, à luta e à resistência contra o sistema penal e contra o genocídio que por meio daquele segue em fúnebre marcha. Por uma vida sem classes, grades, racismo e machismo, provocamos todas as companheiras e todos os companheiros a abdicarem das pequenas tentações liberais e a se engajarem na desconstrução da seletividade desde as práticas militantes.


Liberdade ao povo pobre já!

Liberdade a todas as pessoas presas!

Por uma vida sem grades e sem opressões!

segunda-feira, 11 de agosto de 2014


MP denuncia governo Alckmin e Fundação Casa e fala em "nova Febem"

Promotores dizem que a situação na fundação atingiu “patamares inimagináveis”. Superlotação é tanta que menores estão sendo liberados.
por Renan Truffi publicado 08/08/2014 11:46, última modificação 08/08/2014 16:23
Moacyr Lopes Jr. / Folhapress
http://www.cartacapital.com.br/revista/812/ministerio-publico-denuncia-governo-alckmin-e-fundacao-casa-e-fala-em-nova-febem-9382.html 
policial-militar-menor
Policial militar agarra menor na rua Amaral Gurgel, no centro de São Paulo
A situação da Fundação Casa atingiu “patamares inimagináveis”. A avaliação é do Ministério Público de São Paulo. Na última quarta-feira 6, a Promotoria de Justiça da Infância e Juventude da Capital denunciou na Justiça o governo do tucano Geraldo Alckmin e a fundação, por conta da superlotação nas unidades que aplicam as medidas socioeducativas para menores detidos no estado. A reportagem de CartaCapital teve acesso com exclusividade à ação civil pública e, segundo o documento, 91,37% das “casas de internação” estão com um número de adolescentes acima do limite máximo definido nas portarias administrativas.
A informação é resultado de um diagnóstico inédito da Promotoria, iniciado em março de 2013. Seis promotores lideraram o trabalho: Tiago de Toledo Rodrigues, Pedro Eduardo de Camargo Elias, Fábio José Bueno, Daniela Hashimoto, Santiago Miguel Nakano Perez e Fabíola Aparecida Cezarini. Eles catalogaram o número de menores internados nas unidades em cada visita mensal. Com isso, o MP descobriu que 106 das 116 unidades de internação do estado têm mais adolescentes do que podem abrigar. Foram contabilizadas 8.079 vagas em todo o sistema, enquanto a demanda é de pelo menos 9.549 vagas. Isso quer dizer que o déficit hoje é de 1.470 vagas, equivalente a 18,19% do oferecido atualmente.
“A situação, de séria gravidade, configura flagrante desrespeito aos direitos humanos dos adolescentes”, diz o texto da ação. Em uma das unidades visitadas pelos promotores, a superlotação era de 158,33% acima da capacidade. O flagrante foi feito na unidade Sorocaba IV, no interior do estado. Com capacidade para receber 24 internos, estava com 62 em abril. Na capital paulista, a situação mais grave foi constatada na unidade Rio Paraná, no bairro do Brás. Com espaço para 110 menores infratores, alocava 198 adolescentes – também em abril.
O cenário, classificado pela Promotoria como “calamitoso” e um “horror”, obrigou o órgão a pedir judicialmente soluções em até um ano. Se aceita pela Justiça, a ação estipula que a Fundação Casa tem seis meses para criar as vagas, de sorte a atender à demanda excedente em seis meses, sob pena de multa diária de 10 mil reais por vaga não oferecida. Foi pedido ainda o fechamento das unidades e o afastamento provisório dos dirigentes da Fundação Casa, gerida atualmente pela presidente Berenice Maria Giannella. Se não criar nenhuma das vagas pedidas pelos promotores, o estado terá de pagar multa de 14,7 milhões de reais por dia.
A ação determina ainda o prazo máximo de um ano para a Fundação Casa adaptar todas as suas unidades, de acordo com o que define o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. O Conanda estabelece que 40 vagas é o máximo que cada unidade deveria ter para garantir o caráter individual da ressocialização dos adolescentes. “Uma unidade projetada para receber 110 menores, por exemplo, tem de ter em seis meses, no máximo, esses 110. Em um ano, tem de ser uma unidade só para 40 internos (número considerado ideal pelo Conselho)”, explica o promotor Pedro Eduardo de Camargo Elias.
Maus-tratos e multas milionárias
Essa deve ser a maior dificuldade da gestão tucana para ajustar a antiga Febem ao pedido da Promotoria. Do total de unidades superlotadas, só quatro já têm como capacidade máxima o número de 40 internos. As outras teriam de ser desmembradas para alcançar as condições mínimas para recuperação do adolescente. A pena deve ser a mesma: multa diária de 10 mil reais por vaga não oferecida.
Além disso, o governo Alckmin terá de apresentar num prazo máximo de três meses um cronograma detalhado, “descrevendo as medidas já adotadas e as que serão implementadas para o atendimento dos itens”. Caso não faça isso, o MP determina mais uma multa: 1 milhão de reais por dia. Finalmente, os promotores colocam como último pedido da ação civil uma exigência ao estado: em seis meses deve começar a ser feito um planejamento para atender à demanda futura, com base em projeção de aumento de internos.
A conclusão dos promotores é de que, se continuar do jeito que está, a Fundação Casa “acabará como uma nova Febem”. “Se a Fundação Casa mantiver as coisas no curso atual, nós estamos caminhando, sim, para um cenário em que a Fundação Casa voltará a ser aquilo que era a Febem”, alerta o promotor Tiago de Toledo Rodrigues.
A comparação encontra respaldo em diversos pontos da ação civil. Na ação está descrito um quadro de “tensão ininterrupta” causado pela superlotação das unidades. Faz parte do cotidiano dos menores, por exemplo, “dormir na praia”, gíria interna que significa passar a noite no chão, muitas vezes sem colchão. O mesmo acontece nas salas de aula. Todas foram planejadas para receber um número máximo de internos. Não é o que acontece. Segundo a Promotoria, isso pode afetar totalmente a recuperação dos menores, que acabam não encontrando ajuda para não voltarem a cometer crimes.
A situação é idêntica no refeitório, em banheiros, áreas comuns e de lazer. São necessários rodízios no horário do almoço, do banho e de todas as demais atividades rotineiras. Com comida fria, sem banho e com problemas para fazer atividades físicas ou de ressocialização, os adolescentes ficam estressados e, consequentemente, os funcionários também. “O ambiente, inóspito, diuturnamente dá causa a outros transtornos. Há crescente e significativo aumento dos conflitos entre os adolescentes. Não raro esses conflitos envolvem também funcionários que, igualmente, são expostos a sérios riscos”, denuncia a ação do MP.
Libertação de menores
A reportagem também teve acesso a um relatório feito pela primeira vez na mesma Promotoria sobre o processo de liberação dos menores. De três em três meses, a Fundação Casa é obrigada a fazer um relatório técnico sobre todos os adolescentes internados. Neste documento, o órgão explica como está o processo de ressocialização de cada um dos jovens e conclui se eles estão prontos para voltar às ruas, se devem continuar em “tratamento” ou se podem começar uma “desinternação progressiva”, situação na qual o jovem pode passar para “Liberdade Assistida”, por exemplo.
Em julho, o Ministério Público analisou todos os documentos que recomendavam a desinternação. Nesse período de um mês, a Fundação Casa pediu a soltura ou relaxamento das medidas socioeducativas para 273 adolescentes. Desse total, quase 95% é para jovens com menos 13 meses de internação, quando cada adolescente pode ficar até três anos no sistema. O caso levanta a suspeita de que a Fundação Casa esteja liberando os adolescentes para evitar que o sistema entre em colapso.
A ação foi entregue a CartaCapital na mesma semana em que o governador Geraldo Alckmin foi a Brasília justamente para pedir penas mais duras a menores infratores. Na terça-feira 5, Alckmin encontrou-se com lideranças do PSDB na Câmara dos Deputados para pedir votação com urgência para o projeto de seu colega de partido que reduz a maioridade penal. Em caso de aprovação, o projeto pressionaria ainda mais o sistema já saturado.
O fato é que a superlotação já tem colocado na rua jovens que precisam passar por medidas socioeducativas para se reintegrar à sociedade. Em março, um adolescente que havia sido detido em uma delegacia de Dracena, no interior do estado, foi solto depois de cinco dias, porque a Fundação Casa não tinha vaga.
Procurada pela reportagem, a Fundação Casa informou que ainda não foi notificada da ação, mas argumentou que a superlotação é culpa da Justiça paulista. “O excedente que existe na instituição deve-se, principalmente, às exageradas internações.” Procurado, o governo do estado não se manifestou sobre a ação do Ministério Público.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Homens e mulheres que estão presos, mandem suas cartas para decifrarmos a caixa-preta das prisões. Já tenho 40


http://blogs.estadao.com.br/sp-no-diva/as-cartas-dos-presos-vao-ajudar-a-iluminar-a-caixa-preta-das-prisoes/
 
Já recebi algumas cartas de pessoas presas ao longo de minha carreira como repórter. Quase nunca viraram notícias. Havia o argumento de que eu poderia estar sendo usado pelos presos, o que era uma evidente bobagem. Mas eram épocas complicadas, logo depois dos ataques do PCC, quando os detentos eram pintados pelo Estado como espécies de Osama Bin Laden pós 11 de setembro. O fato é que a criação desse clima afastou os jornalistas de dentro dos presídios. Foi assim que eu e meus colegas paramos de contar o que ocorria dentro das prisões, a não ser quando se referia ao PCC, com informações que chegavam por intermédio das autoridades cuja investigação parece se restringir às escutas telefônicas.
Foi essa omissão forçada que permitiu às prisões se transformarem em uma caixa-preta, onde vivem mais de 200 mil pessoas. Se considerar os familiares dos presos, são mais de 1 milhão vivendo o cotidiano desconhecido do sistema penitenciário. Trata-se de uma cidade do porte de Campinas, que alguns acreditam formar uma realidade paralela, mas que está totalmente interligada com nosso dia a dia. “Todas essas pessoas merecem sofrer porque praticaram crimes”, vão dizer alguns. Esse é um pensamento primário. Basta ver que o Primeiro Comando da Capital se fortaleceu justamente porque havia essas sombras mal compreendidas. A facção passou a ocupar o espaço abandonado pelo Estado, conquistando legitimidade entre a massa carcerária, ao mesmo tempo em que organizava o mercado de drogas em São Paulo e passava a fornecer para muitos estados do Brasil.
O PCC ganhou força dentro e fora do sistema porque muitos acreditam que é possível amontoar um monte de gente nos presídios e esquecê-los lá dentro. Só que os efeitos colaterais foram se revelando com o tempo: fortalecimento do crime e fragilidade do Estado. Há quase um ano São Paulo bate recordes sucessivos de roubo, sem falar no crescimento constante do mercado de drogas.
O jornalismo tem a obrigação de ajudar a lidar com o problema mostrando ou discutindo o que ocorre nas prisões. Além de publicar fotos, este blog vai divulgar o conteúdo de cartas de pessoas que estão presas. Não se trata de dar publicidade a denúncias infundadas, mas de dar vasão aos reclames feitos por presos cujos direitos são desrespeitados. Muitos erraram e querem a reabilitação, oportunidade que o Estado e a sociedade parecem se negar a conceder. Os gastos mensais médios de R$ 2 mil por preso deveriam ser o bastante, mas esse dinheiro parece se perder no fundo escuro da caixa-preta do sistema.
Como costuma afirmar a socióloga Julita Lemgruber, citando o ex-ministro da Justiça inglês Thomas Hurd, trata-se da ”maneira mais cara de tornar as pessoas piores”.
Seguem alguns problemas de dentro das prisões, que me chegaram por meio de mais de 40 cartas. Também publico fotos inéditas dos presídios, como a imagem abaixo, que mostra a superlotação em uma cela. É preciso improviso para organizar os pertences. Os colchões são da espessura mostrada na foto. Não vou dizer de onde são as fotos para preservar minhas fontes. Se os juízes-corregedores e as autoridades dificultam a entrada dos jornalistas nos presídios, que os presídios venham até os jornalistas.

A maioria das cartas vem de Tremembé I e foram escritas no começo de maio, antes do Dia das Mães. Trata-se de demandas legítimas que devem ser observadas. A Pastoral Carcerária e a Defensoria vão nos ajudar a checar a reclamação dos presos.
TREMEMBÉ I
1) Funcionários assediando sexualmente as visitas “com assovios, olhares nas partes íntimas e palavras sexuadas”. Revistas humilhantes aos familiares dos presos;
2) Falta água sempre. Não há água para beber, higiene pessoal. Quando tem, a água é suja e causa diarreia, dá dor de cabeça e vômito. Direção diz que bomba está quebrada. Será que a verba recebida para esse tipo de serviço é usada?, questiona o preso;
3) Reclamações mínimas levam a direção ameaçar a levar os presos para “o pote” (castigo) ou para presídios longe da família;
4) Galpão onde os presos trabalham: há um cano de água estourado há mais de três anos e da fenda do chão jorra grande quantidade de água limpa, que vai direto para o bueiro. “Por que não dar essa água aos presos em vez da água suja?”, questionam duas das cartas;
5) Em celas de 10 metros quadrados, onde antes cabiam no máximo dois presos, hoje colocam seis. Nas camas não se pode nem sentar por falta de espaço. Na hora da alimentação, o preso precisa comer de pé;
6) Não existe tratamento médico e dentário. Nas cartas, os presos contam como tentam montar um plano odontológico por meio de pagamento a dentistas e divisão das despesas com internos e famílias;
7) Proibido dar presentes aos filhos em datas festivas. Também é proibido às visitas ingressar com refrigerantes;
8) Revistas ao jumbo (produtos que os familiares são obrigados a levar porque o oferecido pelo Estado é insuficiente) e às visitas tiram o tempo de convívio com os detentos. Há mais de mil visitas e apenas duas mulheres para fazerem a revista pessoal e duas para o jumbo. Visitas chegam às 6h da manhã e só conseguem entrar na unidade às 12h;
9) Mortes por negligência médica;
10) Enfermaria com detentos despreparados. Faz pelo menos dois anos que falta médico e quatro pessoas morreram por causa disso;
11) Pertences das visitas somem;
12) Falta assistência jurídica e a burocracia da Justiça dificulta a progressão de pena. Pedem semiaberto, por exemplo, demora meses na mão do juiz. Quando retorna, é para afirmar que o preso esquecem de preencher determinado item. O documento volta ao limbo burocrático;
13) Proibição de alimentos como milho, ervilha e salame, bolo sem recheio na entrada, refrigerante, itens que são permitidos em outros presídios;
14)  Únicos remédios na unidade: Paracetamol em gotas ou Dipirona. São dados para todo tipo de doença;
15) Demora para entregar sedex e  as cartas levam mais de 30 dias para chegar ao preso;
16) Agentes levam artesanatos feitos pelos presos embora e proíbem que sejam feitas cortinas para o banho, que molha a cela e os colchões;
Penitenciária II Presidente Venceslau
1) Não tem estudo, trabalho, saúde e curso profissionalizante. Benefício de pena é negado, afirmando-se que o preso não estuda nem trabalha;
2) Exames criminológicos avaliam sentenciado em 5 minutos;
3) 4 horas de visitas, com funcionários vestindo toucas ninjas e armas. Visitas dentro da cela, sem parquinhos para crianças;
4) Presos buscam informações para montar ONG do tipo Afro Reggae para ajudar na ressocialização de presos;


Algumas dessas cartas são para as esposas. Quando percebe o futuro encarcerado, longe da mulher e das crianças, alguns presos se derretem em poesias e juras de amor, reconhecendo a importância da família e se autopenitenciando pelas derrapadas do passado. Há espaço para transformações, mas o Estado e a sociedade parecem se esforçar para fechar todas as portas.
Publicarei novas cartas neste blog, conforme elas cheguem às minhas mãos. Reclamações básicas, como a falta de espaço na foto acima, que transforma o banheiro de 60 pessoas em depósito de alimentos. Está enganado quem acredita que se esquecermos desse assunto, o problema desaparece como num passe de mágica. São justamente as nossas sombras mais escuras que precisam ser decifradas.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

CARTA DENUNCIA – ADOLESCENTES DA FEBEM RAPOSO TAVARES DENUNCIA VIOLÊNCIA QUE SOFREM

CARTA DENUNCIA – ADOLESCENTES DA FEBEM RAPOSO TAVARES DENUNCIA VIOLÊNCIA QUE SOFREM

A Associação de Familiares e amigos de presos AMPARAR, constantemente recebe cartas-denuncia de adolescentes e adultos presos no Sistema Penal do estado de São Paulo. 

A Unidade da Fundação Casa - Jatobá, localizada no Km19,5 da Rod Raposo Tavares, já foi denunciada intensamente não só pelos adolescentes, mas também por familiares e associações de direitos humanos. O Subcomitê de prevenção a tortura da ONU, visitou esta unidade em 2011, após as torturas que os adolescentes vinham vivenciando.

Depois da visita, a ONU publicou relatório solicitando mudanças no cotidiano na Unidade  ( http://www.onu.org.br/relatorio-do-subcomite-de-prevencao-da-tortura-spt-esta-disponivel/)  Porém, diante desta e tantas outras denuncias, temos observado que o contexto de tortura contra os adolescentes não tem cessado.

Segue a transcrição de mais uma carta-denuncia dos adolescentes da Unidade Jatobá, recebida em maio/2014 pela associação. 

Diretamente do complexo raposo tavares  quem vem invadindo essa transportadora de palavra é mais um adolescente que esta sofrendo diversos tipos de opressões (psicológico, física, de se expressar, de se locomover), diversos adolescentes tão todo machucado e o adolescentes XXXX que esta sem dente eles não que dar atenção e o adolescente senti muita dor não conseguindo comer e a diretora entro de férias e estão vindo com varias maluquice nois se encontramos de tranca falaram que nois ia ter aula um dia sim e outro não eles quebrram as cadeiras pá fala que ta faltando cadeira tão deixando nóis sem aula e sem cursos nossos direitos não tão sendo compridos que é a escola e os cursos tamo sendo agredido todos os dias pelo funcionário ate tamo tenho meia hora de visita precisamos da sua ajuda de vocês.
Temo direitos de ver nossa namorada tao deixando ver dia sim outra semana não precisamos que vocês nos ajuda que vocês do forum converse com esses funcionários que todos sábados ou ate mesmo os domingos nois ver a pessoas que nois amamamos peço ajuda de vocês que nos ajudasse. Obrigado. Adolescente.
Preciso que nos ajudamos porque tamo apanhando todos os dias dos funcionários principalmente do funcionário se ates ele bate muito na gente aqui na UI jatobá por favor ajuda nois obrigado
Precisamos das suas ajudas vocês do forom obrigado contamos com suas ajuda


quarta-feira, 9 de abril de 2014

FEBEM/FUNDAÇÃO CASA, TORTURA E O CASO UNIDADE RAPOSO TAVARES


FEBEM/FUNDAÇÃO CASA, TORTURA E O CASO UNIDADE RAPOSO TAVARES
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Em junho 2011, diversas denúncias sobre práticas de tortura contra os adolescentes da Unidade de internação Jatobá (localizada na Rodovia Raposo Tavares km 19) vieram à tona por meio de cartas escritas pelos próprios adolescentes sobre o violento cotidiano vivenciado, marcado por socos e chutes por parte dos funcionários, a mando da direção.

Familiares e movimentos sociais não se calaram diante de tamanha brutalidade e violação de direitos. Denunciaram constantemente aos órgãos nacionais e internacionais e promoveram ainda atos e falas públicas em eventos de direitos humanos. O caso ganhou destaque em vários meios de comunicação, que deram espaço para que a questão da FEBEM/Fundação Casa retornasse e ficassem menos escondidas as barbáries que ocorrem do lado de dentro dos muros. Apesar das diversas ameaças, constrangimentos e assédios morais impostos pelos funcionários, as famílias denunciantes se mantiveram firmes e deram continuidade às denúncias.

A luta em defesa da vida e da integridade física e psíquica dos adolescentes rendeu a visita do Subcomitê de prevenção d a tortura da Organização das Nações Unidas (ONU), cujos membros comprovaram as denúncias e sugeriram que o país e o Governo do Estado assumissem a responsabilidade de promover ações que alterassem o quadro de brutalidade vivida no complexo.

A diretora da época (apresentada pelas cartas dos adolescentes com o nome de Tânia) foi afastada de seu posto e substituída por Fábio, que se autodenomina “Fábio Capeta” aos adolescentes. Com a continuidade das denúncias, Fábio também saiu, mas foi encaminhado para outras unidades da Fundação Casa, chegando a responder pela direção de uma das unidades do ABC. Também foi denunciado, mas nada de fato foi solucionado.

Sob a batuta do Governo do Estado, as denúncias das violências e abusos cometidos na FEBEM/Fundação Casa têm servido, na verdade, para “sancionar” funcionários e diretores torturadores com promoções a cargos mais altos ou transferências a outras unidades, o que evidencia a principal, e não declarada, política pública das esferas federal e estadual para a juventude: o encarceramento em massa e a tortura.

Em meio a este cenário, em 24 de fevereiro de 2013, após situação conflito na Unidade Jatobá, 11 jovens que já contavam mais de 18 anos de idade foram acusados pelos funcionários de tentativa de homicídio contra um funcionário e encaminhados para o CDP de Osasco, onde estão até hoje, com audiência de instrução e julgamento marcada para 10 de abril. 


O caso da Unidade Jatobá é representativo do que ocorre em todo o sistema de internação infanto-juvenil. No próximo dia 10 de abril, uma vez mais jovens violentados durante a vida inteira estarão no banco dos réus, submetidos ao julgamento de uma “Justiça” que, contra eles, permite todo tipo de atrocidades, ao mesmo tempo em que criminaliza, severamente, qualquer tentativa de resistência contra essas violações.

Estamos atentos a esse julgamento, cientes de que, na luta pelo fim dos massacres contra a nossa juventude preta, pobre e periférica, também os Tribunais são reprodutores da política de encarceramento e extermínio juvenis e, portanto, objetos de denúncia e de enfrentamento.

AMPARAR- Associação de amigos e familiares de pres@s
Associação Franciscana de defesa de direitos e formação popular
Instituto Práxis de Direitos Humanos
Mães de Maio
Rede 2 de Outubro
Tribunal Popular
UNEafro Brasil

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O CARANDIRU É AQUI

Nunca é demais relembrar: em 2 de outubro de 1992, mais de trezentos policiais militares invadiram a Casa de Detenção e exterminaram ao menos 111 homens desarmados e rendidos. Muitos sobreviventes e jornalistas presentes no dia afirmam que o número é subnotificado e que, na verdade, cerca de 250 homens foram executados. Foi a maior chacina da história do sistema prisional brasileiro.

Após quase 22 anos, encerrou-se, em primeira instância, o julgamento dos policiais envolvidos. Foram 77 policiais condenados no que é considerado o maior júri da história do tribunal paulista.

Pouca coisa, no entanto, muda com o desfecho provisório do processo do Massacre do Carandiru.

De um lado, é necessário sempre lembrar que Antônio Fleury Filho e Pedro Campos, mandantes do Massacre, não foram sequer processados, fato que respalda as autorizações para matar que até hoje governantes cedem aos policiais sob sua autoridade.

De outro lado, é importante reafirmar que esse Judiciário que condenou, duas décadas depois, e ainda em caráter provisório, parte dos policiais envolvidos com o Massacre do Carandiru é o mesmo Judiciário que, diariamente, condena centenas de jovens pobres e pretos ao cumprimento de longas penas em prisões superlotadas e degradantes e mantém presas provisoriamente quase 100 mil pessoas que sequer têm condenação definitiva.

Não é possível celebrar a suposta “justiça” desse Judiciário que, para além de chancelar o encarceramento seletivo e em massa, ignora as diversas denúncias de tortura contra presos e se esquiva, descaradamente, do dever de fiscalizar e de combater as condições degradantes das prisões paulistas.

Nada a celebrar diante do aumento de cerca 400% da população carcerária desde 1992, contra 30% da população em geral, e da multiplicação de famílias que, como os familiares dos exterminados na Casa de Detenção, são penalizadas junto com seus entes queridos presos e, na tentativa de ampará-los, são submetidos a diversas violações.

Esse mesmo Judiciário que aprisiona em massa, prevarica na atribuição de monitorar as condições materiais dos presídios e é conivente com a tortura, também faz vistas grossas às sistemáticas revistas vexatórias, violência sexual praticada contra mulheres e crianças que, com muito esforço, se deslocam por centenas de quilômetros para visitar seus parentes presos.

Desse modo, apesar da importância histórica do reconhecimento judicial, ainda que tardio, do Massacre do Carandiru, não nos iludimos com as possibilidades de construir justiça dentro do sistema penal, que é nítida e inescapavelmente voltado à manutenção e ao aprofundamento das desigualdades produzidas pelo sistema capitalista.

A longa caminhada pelo fim dos massacres é pavimentada, cada vez mais, pela convicção de que as lutas para incidir nas estruturas que permitem massacres como o do Carandiru não cabem nos tribunais.

Renovamos a nossa aposta de que a derrocada dessa ordem que se sustenta a partir do extermínio do povo pobre e negro, nos dois lados do muro, e no dia a dia, e da qual o Massacre do Carandiru é produto e expressão, somente se dará com a organização popular e autônoma para resistir e lutar contra esse Estado Penal e contra as classes abastadas que dele se valem para manter seus domínios.

REDE 2 DE OUTUBRO

PELO FIM DOS MASSACRES

POR UMA VIDA SEM GRADES E SEM OPRESSÕES

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Julgamento do Carandiru tem 73 PMs condenados por mortes de 77 presos

Do UOL, em São Paulo
Passados 21 anos desde o massacre do Carandiru e 12 meses de julgamento, 73 policiais militares foram condenados pelas mortes de 77 presos em 2 de outubro de 1992, data que marcou o pior episódio na história do sistema penitenciário brasileiro.
Dividido em quatro etapas por ter um grande número de réus e vítimas, o júri foi iniciado em abril de 2013 e terminou na noite desta quarta-feira (2), no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste da capital paulista). Cada fase do julgamento teve um grupo diferente de jurados e correspondeu a um dos quatro andares do pavilhão 9 da Casa de Detenção, onde 111 presos foram mortos quando a PM entrou no presídio para conter uma rebelião, em 1992.
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Massacre do Carandiru73 fotos

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2.ago.2013 - Plenário do Fórum Criminal da Barra Funda, na capital paulista, onde acontece o último dia da segunda parte do julgamento do massacre do Carandiru. São julgados os 25 PMs acusados da morte de 73 presos que estavam no terceiro pavimento da antiga Casa de Detenção. A sentença deve ser divulgada na madrugada deste sábado (03) Leia mais Reprodução

CARANDIRU E SEUS PERSONAGENS

  • Musa e madrinha do Carandiru, Rita Cadillac ainda encontra ex-detentos nas ruas de SP
  • Massacre do Carandiru foi um marco, mas cadeias ainda não recuperam presos, diz Drauzio Varella
O Ministério Público defendeu a tese de que os policiais militares agiram em grupo, não individualmente, com o objetivo de matar e que os presos não tiveram como reagir. A defesa, por sua vez, argumentou que era impossível provar que determinado réu matou determinada vítima porque nunca foi feito um exame de balística indicando de quais armas saíram os projéteis que acertaram os presos.
Os jurados aceitaram a proposta da promotoria e condenaram os PMs em todas as quatro etapas do julgamento.
Na primeira delas, em abril de 2013, 23 policiais militares foram condenados a 156 anos de prisão pelas mortes de 13 presos no primeiro andar (segundo pavimento) do pavilhão 9.
A segunda etapa, realizada em julho do ano passado, resultou na condenação de 25 PMs da Rota (tropa de elite da polícia paulista) a 624 anos de prisão pelas mortes de 52 homens no segundo andar (terceiro pavimento) do pavilhão.
Já em 2014, a etapa relacionada ao terceiro andar (quarto pavimento) chegou a ser iniciada em fevereiro, mas foi cancelada porque o advogado de defesa deixou o plenário durante o julgamento, o que levou à anulação dos trabalhos. Remarcado para esta semana, o júri foi concluído hoje com a condenação de 15 PMs do COE (Comando de Operações Especiais) a 48 anos de prisão pelas mortes de quatro detentos --constavam da acusação oito mortes e duas tentativas de homicídio, no total, mas a promotoria pediu que os réus fossem absolvidos de quatro dessas mortes, provocadas por armas brancas, e das duas tentativas de homicídio pois não haveria como associá-las à ação dos policiais.
A quarta etapa, relativa ao quarto andar (quinto pavimento) do pavilhão 9, acabou sendo realizada antes da terceira, em março deste ano, com a condenação de dez policiais militares a penas entre 94 e 104 anos de prisão pelas mortes de oito presos.
Todos os PMs ainda podem recorrer e permanecem em liberdade até que seja esgotada qualquer possibilidade de recurso na Justiça.
Das 111 mortes no Carandiru, 34 ficaram fora desse julgamento, considerado o maior da história do judiciário brasileiro. Cinco delas, provocadas por arma de fogo, seriam imputadas exclusivamente ao coronel Luiz Nakaharada, mas o policial militar morreu em dezembro de 2013, antes de ir a julgamento. As outras 29 (por armas brancas e armas de fogo) não tiveram a autoria reconhecida, não podendo, assim, ser atribuídas aos PMs que entraram no pavilhão 9 do Carandiru.

Julgamento do massacre do Carandiru - 13 vídeos

sábado, 29 de março de 2014

Desigualdade Racial e Segurança Publica

Famílias oficializam denúncia de violência na Fundação Casa


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Famílias oficializam denúncia de violência na Fundação Casa

http://spressosp.com.br/2014/03/familias-oficializam-denuncia-de-violencia-na-fundacao-casa/

Capital, Direitos Humanos, slider2, Zona Norte Nenhum Comentário 291
Segundo o documento, que será protocolado na Defensoria Pública, um dos adolescentes “teve seus dentes quebrados devido às agressões”; um interno morreu após fuga de unidade
Por Igor Carvalho
A Associação de Amigos e Familiares de Presos (Amparar) irá protocolar, nesta quinta-feira (27), na Defensoria Pública do Estado, uma denúncia de violação de direitos humanos na Fundação Casa. O SPressoSP teve acesso ao documento com exclusividade.
Segundo o grupo, as agressões aos internos começaram após uma fuga em massa no último dia 14 de março, na unidade Vila Maria, zona norte da capital. De acordo com a Amparar, 35 adolescentes fugiram. A Fundação Casa confirmou a fuga de 45 internos.
A Amparar afirma que dois adolescentes morreram afogados após se jogarem no rio Tietê para escapar. A Fundação Casa confirma a morte de um interno, que teve seu corpo encontrado pelos Bombeiros no último dia 18, no rio. Ainda estão foragidos, segundo a instituição, 29 jovens.
Os internos estariam, desde a tentativa de fuga, sofrendo agressões dos funcionários da Fundação Casa, segundo os familiares. No documento, o grupo afirma que há “um adolescente com ferimento na cabeça que necessita de atendimento médico com urgência, uma vez que não foi encaminhado ao pronto-socorro”.
Um adolescente (no documento consta o nome do interno, mas nesta matéria será ocultado) teve seus dentes quebrados devido às agressões que sofreu, segundo a denúncia. A Fundação Casa confirma que o interno quebrou os dentes, mas alega que foi consequência de uma queda na tentativa de fuga.
No documento que será protocolado na Defensoria consta, ainda, uma denúncia de maus-tratos na unidade feminina Chiquinha Gonzaga, antecipada pelo SPressoSP.

Justiça apura denúncia de tortura e morte de jovens na Fundação Casa

 

http://www.clicfolha.com.br/noticia/32822/justica-apura-denuncia-de-tortura-e-morte-de-jovens-na-fundacao-casa Estadão Conteúdo
O Ministério Público Estadual, o Tribunal de Justiça e a Defensoria Pública do Estado apuram denúncia de tortura praticada por funcionários da Fundação Casa (ex-Febem) contra adolescentes, depois de recente tentativa de fuga. Os relatos são de espancamento a jovens do Complexo Vila Maria, na zona norte da capital - tanto os que ficaram quanto os que foram recapturados. Dois dos fugitivos foram encontrados mortos, boiando no Rio Tietê. A Fundação afirma que há duas sindicâncias abertas para apurar os fatos.
"Os adolescentes relatam severas agressões, que podem se caracterizar em maus-tratos ou torturas, perpetradas pelos agentes da Fundação, direcionadas especialmente às cabeças. Segundo relatos, há adolescentes com lesões aparentes, dentes quebrados e isolados 'em tranca' (isolados dos demais internos) depois disso", diz trecho da representação, feita pelo Coletivo de Advogados de Direitos Humanos (CADhu).
Pessoas ligadas às unidades afirmaram ao Estado que os internos que ficaram no complexo depois das fugas também foram vítimas de violência. Mas as agressões teriam se dirigido especialmente aos adolescentes que tentaram fugir.
As fugas ocorreram na madrugada dos dias 15 e 16. A primeira foi maior, com 37 menores que conseguiram escapar das unidades Nova Vida e Paulista, que fazem parte do complexo. Desses, sete foram recapturados, de acordo com a Fundação.
No caso seguinte, a fuga foi de cinco adolescentes que estavam na unidade Bela Vista. Dois dos internos estão foragidos. Um deles foi recapturado. Os dois restantes foram encontrados mortos no dia 18, boiando no Rio Tietê. Seus corpos foram retirados do rio pelos bombeiros.
Segundo relatos de funcionários, houve confronto entre servidores e detentos nas tentativas de fuga. Quatro agentes terminaram feridos. Um deles, atingido por um extintor de incêndio, ainda está internado.
Exemplo. "Pelos relatos que colhemos, os casos de tortura que existem na Fundação Casa, especialmente nesta unidade, são sistemáticos e vêm se intensificando ao longo dos anos. A fuga foi uma resposta a essa situação. Depois disso, como é de praxe na instituição, houve uma sessão severa de espancamento, na modalidade de tortura como submissão. Os torturados serviram de exemplo para os outros - como forma de tentar evitar novas fugas", disse a advogada Eloísa Machado, que faz parte do CADhu. "Além de fazermos a representação, despachamos com todos os órgãos acionados para cobrar providências", afirmou.
A representação dos advogados pede visita às unidades e apuração da morte - o texto fala do encontro de um corpo apenas e do desaparecimento de outro; a Fundação confirma que os dois estavam no Tietê. Organizações como Mães de Maio e Associação de Amigos e Familiares de Presos (Amparar) também acompanham o processo.
A juíza corregedora permanente da Fundação Casa do Tribunal de Justiça, Maria Elisa Silva Gabin, informou que apura os fatos e determinou inspeção judicial na unidade. Por meio da assessoria de imprensa do TJ, ela afirmou que já ouviu os diretores das unidades e também a presidente da Fundação Casa, Berenice Giannella.
O Ministério Público também investiga a denúncia. A reportagem não conseguiu confirmar quais ações foram tomadas pela Defensoria Pública.

sábado, 1 de março de 2014

Detentos são encontrados mortos em penitenciárias de SP

Detentos são encontrados mortos em penitenciárias de SP

  • Direto de Araçatuba
A secretaria de Administração Penitenciária (SAP) de São Paulo confirmou nesta sexta-feira que dois detentos que cumpriam pena em duas penitenciárias de Lavínia, no interior do Estado, foram encontrados mortos. As circunstâncias das mortes não foram esclarecidas, mas podem estar ligadas ao tráfico de drogas e ao acerto de contas. As duas penitenciárias são controladas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). 

As mortes ocorreram na tarde de terça-feira, na P-1, e na madrugada de quinta-feira, na P-2, mas só foram reveladas nesta sexta-feira. A SAP informou que abriu sindicância interna para apurar as causas e comunicou o fato à Polícia Civil e à Vara de Execuções Criminais.

Segundo nota distribuída pela secretaria, Odair José da Silva, que cumpria pena na P-2, morreu na terça-feira, quando, por volta das 13h, os presos do pavilhão avisaram os agentes que Silva precisava de atendimento com urgência, pois estaria passando mal. “Ele foi prontamente encaminhado ao setor de enfermaria, onde a médica de plantão constatou que ele não apresentava sinais vitais. O médico legista atestou a morte por causa indeterminada”, diz o comunicado da secretaria.

A outra morte ocorreu na madrugada de quinta-feira. O preso Luís Carlos Paschoal, que cumpria pena na P-1, estava sozinho numa das celas do pavilhão de enfermaria, quando foi encontrado morto. A SAP não doube informar os motivos da internação do detento, mas agentes disseram que ele teria passado mal na tarde anterior. A suspeita é que ele teria sido assassinado por colegas com o chamado "gatorade", o coquetel da morte, feito com uma mistura de cocaína, viagra e água. Segundo a SAP, o detento estava recolhido ao pavilhão, onde ele pernoitava sozinho. A certidão de óbito consta causa indeterminada e doença prévia, mas não explica qual doença seria essa.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Pior presidio do país não faz revista íntima igual ao ABC


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014 11:16 [Nenhum Comentário] 
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Cintia Alves
Fundação Casa de Santo André abriga 300 menores. Foto: Pedro Diogo
Com o total de cinco unidades da Fundação Casa em Santo André, São Bernardo e Mauá, o ABC, por iniciativa de órgãos do Poder Judiciário, de conselhos municipais e movimentos ligados aos Direitos Humanos, decidiu batalhar para extinguir o que considera uma medida vexatória e desnecessária: revistas íntimas em adolescentes internos e visitantes.
Na semana passada, o tema foi debatido em audiência pública no centro de Santo André, que abriga mais de 300 jovens nos dois prédios da entidade implantada pelo governo do Estado. Segundo o defensor público Marcelo Carneiro Novaes, dados apontam que as revistas íntimas feitas para tentar detectar a entrada de objetos proibidos (como drogas ou armas) no equipamento público podem acontecer, em média, sete vezes por dia.
"No sistema da Fundação Casa do ABC, entre janeiro de 2012 e o primeiro semestre de 2013, cerca de 820 mil revistas foram realizadas nos internos e visitantes", pontuou. "No mesmo período, não houve nenhuma apreensão de objetivos proibidos. Ou seja, esse volume exagerado de revistas é desnecessário", completou.
Segundo o especialista, no sistema prisional de grande porte, a revista íntima só acontece em casos de deslocamentos externos dos detentos. "Na Fundação Casa, qualquer passagem interna requer revistas. É abusivo. O sujeito sai com a cabeça esfacelada por passar por tanto constrangimento. O pior presídio do País não faz revistas como no ABC", analisou.
As revistas são praticadas segundo definição do regimento interno da Fundação Casa. O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Santo André, que também encabeça a movimentação pelo fim do procedimento, coleta há anos queixas e denúncias de visitantes e internos que têm seus órgãos genitais expostos durante a fiscalização. Ao RD, a presidente do núcleo, Maria Inês da Costa, relatou um dos episódios que marcou sua atuação profissional.
"Eu atendi uma senhora de 68 anos, do Jardim Cristiane, que sofria de problemas de saúde, como obesidade. Ela mal conseguia se abaixar, mas passava pela revista para visitar o neto, hoje com 18 anos, já afastado da Fundação Casa. Ela dizia que não tinha nada mais vergonhoso do que passar por aquela situação", contou a assistente social.
Maria Inês e o defensor Novaes adotaram discurso uníssono quanto ao fim das vistorias. "Quanto aos adolescentes, a direção da Fundação Casa tem de tomar consciência e acabar com as revistas. Já para os visitantes, o certo é investir em tecnologia, como scanners utilizados em aeroportos. Isso porque há estudos que apontam que se a mulher quiser entrar com item introduzido na genitália, a revista não vai impedir. A revista só é parte de uma cultura de submissão do adolescente sentenciado e de suplício para a família que o visita", sustentou Novaes.
O grupo agora pretende expandir a discussão para as demais cidades do ABC que possuem unidade da Fundação Casa. Além disso, já enviaram carta de apoio e buscam assinaturas favoráveis a projeto que tramita no Congresso acerca de regulamentação das revistas íntimas. Na audiência, o deputado José Bittencourt (PSD), apresentou a minuta de projeto de lei (PL 797) para acabar com o procedimento. Já o deputado Adriano Diogo (PT) se comprometeu a convocar audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado.
O Consórcio Intermunicipal Grande ABC, que reúne os sete prefeitos da região, também deve ser acionado pelo movimento. "Achamos que o espaço para articular essas decisões é o Consórcio Intermunicipal, pelo peso que tem nas questões políticas. É o que digo sempre: o ABC tem de servir de laboratório para o resto do Estado. E nós já estamos saindo na frente com essa discussão sobre a Fundação Casa", frisou Novaes.
As visitas acontecem, oficialmente, nas tardes de sábado e domingo.
Até o fechamento desta edição, a Fundação Casa não se posicionou sobre o assunto.