Análise
Presídios aprofundam as desigualdades da sociedade
RODOLFO DE ALMEIDA VALENTE
ESPECIAL PARA A FOLHA
ESPECIAL PARA A FOLHA
São Paulo tem 190 mil pessoas comprimidas em um parque prisional que comportaria, se muito, 100 mil.
Disso derivam outras violações de direitos humanos, como tortura e
insalubridade, às quais se soma a completa ausência de políticas de
oferta de ensino e trabalho.
O cenário tende a piorar: cerca de 3.000 entram a mais por mês nas
prisões. Os governos seguem com a política de construir presídios, mas o
mínimo de discernimento é suficiente para entender que não é a solução.
As pessoas que superlotam as prisões são as mesmas cujos direitos básicos, historicamente, foram e continuam sendo sonegados.
São jovens, pobres e negros provindos, em regra, da periferia, onde
sofrem com a precariedade de serviços públicos e a violência policial.
Mais da metade está presa por crimes não violentos.
Fica claro que a prisão serve, não à supressão do crime, mas ao
aprofundamento das desigualdades por meio da neutralização do povo
excluído do mercado de consumo.
Nesse quadro de violência estrutural e seletividade penal, o cárcere é o
que resta a quem consegue se esquivar das miras dos policiais.
Reverter isso requer pensar menos em prender e mais em desestruturar
essa política de guerra contra a população periférica, pobre e negra,
com medidas de desmilitarização da gestão pública e da polícia, de
controle popular dos órgãos de justiça e de promoção de direitos
sociais.
RODOLFO DE ALMEIDA VALENTE, 30, é militante da Rede 2 de Outubro e assessor jurídico da Pastoral Carcerária
Nenhum comentário:
Postar um comentário