Carta Capital
Em presídios e casas psiquiátricas
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05.07.2012 11:14
Atos de tortura estão disseminados no Brasil, diz ONU
O Brasil foi duramente criticado em um relatório do Subcomitê de
Prevenção à Tortura (SPT) das Nações Unidas divulgado nesta quarta-feira
4, por não avançar na solução de problemas já apresentados pela ONU.
Após vistorias em setembro de 2011 em delegacias, presídios, centros de
detenção juvenil e instituições psiquiátricas no Espírito Santo, Goiás,
Rio de Janeiro e São Paulo, o SPT apontou que a impunidade por atos de
tortura “está disseminada” e decorre do “fracasso generalizado em
levar-se os criminosos à Justiça”. Além disso, foram registrados casos
graves de corrupção e pouca autonomia para realização de exames
forenses.
O relatório aponta casos de pagamento de suborno de 10 mil reais por
detentos a policiais para serem libertados, roubo de provas por
policiais e “compra” por detentos de banhos de sol. Houve registro de
pessoas presas em delegacias que pagaram suborno para serem transferidas
a instalações de detenção pré-julgamento. Para evitar isso, o SPT
sugere a implementação de uma política firme contra a corrupção, o
treinamento de policiais e agentes penitenciários e a revisão dos
salários.
As críticas também atingiram os institutos de medicina forense. O
Subcomitê destacou que o fato destas instituições serem subordinada às
Secretarias de Segurança Pública dos Estados – que controlam a polícia –
pode prejudicar a independência dos profissionais forenses na
realização de exames médicos ou análise de um detento que sofreu
maus-tratos ou tortura.
O atendimento médico aos detidos também foi apontado como falho,
devido à falta de recursos financeiros, materiais e a subordinação dos
serviços de saúde aos de segurança. A ONU identificou que nas delegacias
de polícia não havia acesso a médicos, e nas prisões o atendimento
ocorria com grandes atrasos. “Não havia funcionários médicos à noite ou
nos fins de semana. A equipe médica era insuficiente e incluía detentos
não qualificados para prestar serviços médicos. Em uma prisão visitada,
havia somente um médico presente, uma vez por semana, para atender mais
de 3 mil prisioneiros”, destaca o relatório. Uma situação que, segundo o
SPT, gera casos de presos com doenças crônicas graves, membros
quebrados ou outros ferimentos sem tratamento.
Sem informação sobre direitos
De acordo com o Subcomitê da ONU, muitos entrevistados afirmaram não
ter sido devidamente informados sobre seus direitos no momento da
prisão. Houve diversos casos em que os detidos não puderam informar, por
longos períodos de tempo, a uma pessoa de sua escolha sobre sua
detenção. Ainda no âmbito do acesso à Justiça, o órgão identificou que,
apesar de a assistência jurídica ser gratuita para quem não pode pagar,
ela não é disponibilizada a todos que necessitam. O problema seria a
falta de autonomia institucional e recursos humanos.
Para o SPT, a definição de tortura na legislação brasileira e as
salvaguardas jurídicas existentes estão dentro dos padrões
internacionais. Por outro lado, existe uma lacuna entre o aparato
jurídico e sua aplicação na prática, “uma vez que a maioria das
garantias e dos direitos dispostos na legislação nacional são amplamente
ignorados”, diz o documento. Isso inclui o comportamento de juízes, que
“raramente perguntarem aos detentos sobre o tratamento recebido ao
longo das investigações”. Por isso, o órgão pediu que os magistrados
recusem confissões quando houver motivos para crer que elas tenham
ocorrido por tortura.
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O SPT criticou a superlotação das instituições policiais e considerou
que submeter detentos a situações de superlotação extrema “constitui
uma forma severa de maus-tratos”. Além disso, mostrou preocupação com a
separação de detentos em quase todos os presídios visitados em
instalações ou alas com base na facção criminosa a que eram filiados. “A
prática de forçar novos prisioneiros que nunca pertenceram a nenhuma
gangue a escolher uma ao ingressar no sistema penitenciário é cruel e
leva ao inchaço das gangues.” A alocação em uma cela ou ala deve ser
baseada em critérios objetivos, diz o relatório.
Também foram identificados casos de tortura e maus-tratos cometidos
pelas polícias Civil e Militar. Entre as alegações estão: ameaças,
chutes e socos na cabeça e no corpo e golpes com cassetetes.
Crianças e adolescentes
O SPT destacou negativamente que a privação de liberdade de crianças e
adolescentes não era utilizada como último recurso, indo contra o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). As instituições nas quais as
crianças e adolescentes eram mantidos foram vistas como semelhantes às
prisões comuns para adultos. Além disso, o Subcomitê criticou a falta de
ênfase na dimensão socioeducativa do sistema juvenil e o pouco apoio
para permitir a reintegração destes jovens.
O Brasil tem seis meses para responder os questionamentos do SPT.
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